O ENGENHO

A cana-de-açúcar também era cultivada na comunidade do sítio Jenipapeiro. Quase todos os donos das pequenas propriedades lá existentes possuíam seus engenhos.

Final da década de cinquenta e lá estava a menina, já na pré-adolescência, subindo ao palco para representar mais uma cena da história de vida do seu povo.

Entre final de agosto e começo de setembro, de cada ano, aconteciam as moagens. Na pequena terra do meu pai não havia engenho, mas ele moía sua cana no engenho do seu tio Almedinha, que era irmão da minha avó. Época de alegria para todos. Quando meu tio marcava o dia para meu pai moer sua cana, eu e meus irmãos se alegravam com um evento realizado de maneira tão simples, mas de um enorme significado para nós. Quem já viveu no campo compreende a importância do que falo. Lá temos o ar puro, a liberdade de correr e brincar, o canto da passarada e o verde da paisagem na época das chuvas.

No dia acordado toda a família se dirigia para o engenho. Tudo tão rústico de forma manual e de uma simplicidade tamanha, mas que servia de divertimento para todos. O Engenho era movido a tração animal, geralmente com juntas de bois atrelados a uma canga de madeira, que fazia o trabalho em círculo durante o dia todo. As moendas não paravam. Ficava penalizada com a situação dos bichinhos. Na minha meninice achava que no final da tarde eles estavam tontos de tanto rodar e sem dúvidas cansados.

Tinha a fornalha que funcionava à lenha, a caldeira onde era colocada a garapa ou caldo da cana para ser transformada no mel e depois em rapadura. Antes de dar o ponto da rapadura era retirada uma parte para o consumo do mel e outra para o alfenim. Este último era a melhor parte que eu achava. Era uma delícia puxar o alfenim até ficar esbranquiçado para depois saborear. O caldo também era delicioso com umas gotinhas de limão, mesmo sem gelo, pois naquela época o sítio não era eletrificado. Tudo era aproveitado. O bagaço da cana, por exemplo, servia depois para juntar com outras rações para a alimentação do gado.

Ah, era maravilhoso! O engenho ficava ainda, à beira do açude, onde a garotada aproveitava para tomar aquele banho. Tornava-se uma reunião de família, pois os que moravam mais perto iam se achegando para prosear. Lembranças boas da minha infância e que o tempo não pode apagar a saudade que sinto dos momentos felizes.

Neneca Barbosa

João Pessoa, 13/02/2007

Neneca Barbosa
Enviado por Neneca Barbosa em 19/06/2008
Reeditado em 03/08/2015
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