o desafio da joyce
Outro dia estava pensando sobre os meus tempos de escola, escola escola mesmo, no caso o primeiro grau, não por nada chamado de ensino fundamental. Foi em escola publica, todo ele, um imenso colégio , com milhares de alunos, e só tinha o primeiro grau! ficava muito perto de casa de modo que ia sempre a pé, muitas vezes, cortando caminho por uma passagem que ficava por detrás de nossa casa, até o dia em que minha turma entrou em guerra com os "moleques" da passagem, aí, fiquei um tempão indo mesmo pelo caminho tradicional, perto do mesmo jeito, mas sem a visão de uma imensa jaqueira, que a rápida urbanização do bairro acabaria derrubando mais tarde, havia porem nesse caminho um abacateiro e muito jambeiro, na época certa, fazia a festa do pessoal,na ida e na vinda.mas, o que muitas vezes me impressiona , é mesmo a lembrança de como o ensino mudou desde então, e entre essas mudanças, a qualidade não dos professores, mas dos alunos do meu colégio, não haviam brigas, realmente sérias,e os professores e funcionários conseguiam trabalhar com tranqüilidade, um psiu da diretora ou do porteiro amedrontava qualquer um, pelo menos era isso o que eu via, se bem que a merenda não era lá grande coisa, e foi um problema muito sério quando logo após jogar aquele negócio fora, a merendeira veio de lá de dentro e avisou solenemente que era inadmissível o desperdício de merenda e o primeiro que jogasse merenda fora ia "ai, meu DEUS, QUEM FEES ISSO? " ainda bem que o corporativismo falou mais sério e ninguém abriu o bico sobre a minha atitude.
havia muita união entre nós, e nunca esqueço uma tarde em que o negocio complicou pra turma e fomos obrigados a ficar em silencio, sentados na cadeira, esperando não seio quê, ninguem aguentou e sentados mesmo começamos a conversar , num especie de debate organizado, foi divertido. Ainda moro no bairro, já bastante modificado desde aquela época, e nunca mais entrei no colégio depois de que terminei o primeiro grau, só mesmo pra buscar documentos ou rever algum funcionário e professora em ocasião mais rara, mas, vejo a joyce, 12 anos, e fico pensando, sabendo que outro dia ela quebrou no soco uma colega do colégio, por briga de namoro, e as reclamações na tv de que no entorno do colégio as gangues atormetam os vizinhos, e a "novidade" de policiais tendo que fazer ronda permanente por causa da violência constante dentro do colégio, coisas que não existiam naquela época, sendo que os professores e funcionários são exatamente os mesmos, salvo novas contratações e tal, conclusão, os alunos mudaram , são diferentes, não sei em que , mas são, parecem mais nervosos e agressivos, nervos a flor da pele mesmo, e sempre girando ao redor de algum vicio, bebida, cigarros, e muito pouco interesse em ficar dentro de sala de aula. um espírito permanente de vandalismo orienta as atitudes de muitos, diminuindo ainda mais a qualidade do serviço publico na escola. Algo está desviando seriamente a atenção de nossas crianças e adolescentes dos estudos, e não estamos percebendo , isso é muito mal.
para finalizar, outro dia dei de cara com o jair, um dos que estudavam comigo, nos cumprimentamos efusivamente, mas não demorou estávamos ambos a trabalho, lembro dele me desafiando nas notas e dizendo que ia ser advogado, como o pai era, de fato, se formou em direito, é um conceituado professor em uma importante universidade particular, outro amigo da mesma turma , o charles, se formou em engenharia, trabalha numa companhia de aviação,os dois ex-alunos de uma escola publica mal falada na tv dos dias atuais.Quanto a joyce, nunca vi tanta criatividade para escrever quanto a dessa menina, ela é uma pequena poeta, que pode ser uma grande escritora, ou seja o espírito que vi no passado em outros é o mesmo que está ainda dentro dela, precisamos descobrir com urgência porque a joyce gazeta aula e briga na rua ao invés de planejar o seu futuro, como fizeram o jair e o charles, que por sinal estudaram na mesma sala que ela está estudando agora e recebe aula de alguns dos mesmos professores que eles conheceram.O brasil do futuro depende mais dessa descoberta, do que da descoberta de imensas jazidas de petróleo, é um desafio, e tomara que nossa sociedade , encontre a resposta adequada a esse desafio.