O Significado De Um Abraço

Hoje cheguei no serviço às 7 horas. Mais um dia tumultuado. O movimento do hospital onde trabalho como médico é sempre assim, afinal, ele atende todo o estado.

Até 13 horas estávamos com todos os leitos da emergência lotados. Felizmente depois de um tempo conseguimos uma vaga para uma criança cardiopata no CTI. Puxa, parece que estávamos advinhando! Após meia hora uma ambulância, com uma criança de aproximadamente dez anos que sofrera uma queda chega ao hospital.

O menino chegou em estado grave, comatosa, extremidades frias e ainda apresentava sangramento no couro cabeludo. Fizemos de tudo para salvá-lo. Infelizmente veio a falecer devido às múltiplas fraturas. Agora o momento mais difícil chegava, o de conversar com os pais.

Eu olhava para aquele pai. Ele observava o seu filho e beijava a sua face enquanto segurava a sua mão. Então ele olhando firmemente para mim, começou a contar a sua vida.

Ele trabalhava na lavoura, onde conheceu sua esposa. A seca o fez seguir para cidade grande, com a companheira grávida de pouco meses. Com muita dificuldade (chegou mesmo a passar fome) conseguiu emprego de ajudante de pedreiro. Devido a sua dedicação e luta, hoje é um encarregado de obra. Para ajudá-lo no orçamento doméstico, sua esposa começou a lavar roupa para fora. Com o pouco dinheiro que ganhava mais a união da esposa, conseguiu construir uma pequena casa. Com a chegada de mais um filho (atualmente cinco), decidiu aumentar a casa. Assim, devagarinho com o pouco dinheiro e trabalhando somente aos domingos, estava construindo um andar para fazer mais um quarto.

Hoje, após chegar da escola e jantar, seu filho subiu na laje para soltar pipa. Empolgado com a brincadeira, se distraiu e caiu de mais de três metros de altura. Sua esposa correu assustada com o barulho. O menino foi socorrido pelos vizinhos, que chamaram uma ambulância.

Enquanto falava, as lágrimas caiam silenciosamente, molhando o seu rosto sofrido e queimado de sol. Naquele momento meus olhos umedeceram. Fiquei emocionado. Tentei, mas não consegui ter a real dimensão daquele sofrimento.

Eu estava feliz em poder ouvir aquele pai. Ficamos alí, em silêncio por alguns minutos. Ao se despedir de mim, eu pude sentir a gratidão estampada em seus olhos.

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Quando cheguei em casa, ao abrir a porta, fui recebido com um sorriso e um longo abraço do meu filho de nove anos.

Lembrei daquele pai abraçando o corpo sem vida de seu filho. E foi justamente naquele momento abraçado ao meu filho, que fui capaz de mensurar a dor e angústia daquele homem.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 08/04/2005
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