Criar asas
Criar asas
Eram amigos desde que nasceram. Cupins do mesmo cupinzeiro. Um, totalmente deslumbrado, adorava dançar, só falava em voar para bem longe. Outro, só queria saber de comer, por causa disso estava cada vez mais rechonchudo. O último tinha mania de grandeza e tendia para o vício. Três amigos cupins que ao invés de trabalhar destruindo o armário da casa próxima ao cupinzeiro ficavam conversando seus “lances” para o futuro.
- Seus insetos, tratem de arranjar comida senão vão morrer de fome. É cada um por si, não pensem que estamos aqui para subsidiá-los. Conversa só enche a barriga de ar. – falava o ancião deles.
- Quando a fome apertar vamos procurar comida, ok? – e voltavam ao papo.
- Será que em todo lugar existem os do contra? – perguntava o ancião para a rainha.
- Eu não sei você é quem devia saber, afinal é o ancião.
- Sou ancião porque ainda não morri e não porque seja um status.
- Todo ancião deve ser um sábio, ele vive bastante para isso, adquirir conhecimentos durante a vida e passar para os jovens.
- Ninguém me perguntou se quero fazer isso...
- É assim que deve ser e acabou!
- Por acaso gosta de ser rainha?
- Eu não sei ser outra coisa.
- Ta vendo? Não teve opção, as operárias também não. Se pudesse mudar alguma coisa ia querer ser o que?
- Eu ia ser ecologista! - declara a rainha cheia de grandeza.
- Ficou doida?! Desde quando cupim é ecologista se destrói madeira das árvores?
- Me perguntou, eu respondi, se é da minha natureza ou não, são outros assuntos.
Bob, o cupim dançarino, ouviu parte da conversa e foi logo contar pra Léo, o comilão.
- Aí Léo! Se tiver a fim de dançar conforme a música, vai em frente porque não vai ter represália. Aqui no cupinzeiro todos têm pensamentos próprios. Ouvi um papo da rainha com o ancião que nem te conto... Blá blá blá.
- Hum!
- Tenho novidade! – quer contar Tim, o vaidoso megalomaníaco.
- Nós também temos. – fala Bob.
- A minha primeiro – Tim insiste.
- Ok. Manda. – Léo agacha pra ouvir.
- Do outro lado do riacho tem uma comida deliciosa, diferente mesmo, está dentro de um esconderijo. Eu não sei explicar, quero que vejam, vamos lá?
- Comida é comigo mesmo. – fala Léo.
- É de primeira, quem desfruta dela não quer outra.
- Já estou interessado, vamos?
Lá foforam os três ver a novidade que o Tim encontrou. No esconderijo vêem uma mala repleta de dinheiro amarrados em blocos. Correm para os maços e começam a comer.
- Que delícia!- fala Léo para os outros.
Todos os dias os cupins iam saborear os dólares. Com o passar do tempo foram ficando estranhos, na aparência e no comportamento. O papel processado e a tinta das notas deixaram os cupins viciados, mutantes. Bob, além de dançar, cantava e interpretava o tempo todo, um verdadeiro delírio teatral ambulante. Tim tinha visões de mudar-se para a casa da moeda ou o cofre de algum banco, tamanha a obsessão.
- Será que dinheiro nacional é tão bom quanto esse?
Léo imaginava outros materiais como aperitivos. Comer. Comer. Comer.
Não tão de repente, algo aconteceu naquela sociedade cupinzeira. Foram ficando egoístas, não trabalhavam mais em prol da própria espécie. Desorganização foi a conseqüência do individualismo. Estavam despreparados para os dias de dedetização que chegou naquele lugar. Foram exterminados, eliminados, destruídos pelo delírio do DDT. Tim foi o único sobrevivente, ele dormia dentro de um maço de dinheiro, totalmente desfigurado. Não era mais um cupim e sim, um mutante, sozinho, sem amigos e sem chances de prolongar a espécie.
Pensem:
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SÓ UNIDOS VAMOS PERMANECER.
O INDIVIDUALISMO LEVA À EXTINÇÃO
QUEM SE ALIMENTA DE DINHEIRO, TORNA-SE SEU ESCRAVO.
SEM TRABALHAR, CORRE-SE O RISCO DE FICAR DURO, LITERALMENTE.