Sinto sua falta
Sinto sua falta. Da sua voz. Das suas cantorias. Minhas memórias partem para a minha infância, posso me ver com a cabeça sobre seu colo, sua mão me acariciando o rosto e as cantigas de ninar. Lembro que ficávamos assim a tarde toda. E essa tarde lembrei de você. Você não poderia imaginar como dói no fundo de meu coração essas lembranças e como é assustador saber que nunca mais poderei deitar minha cabeça sobre o seu colo. A realidade é cruel.
Aqui no Catete tem uma Igreja Metodista. Toda vez que passo por ela lembro de você. Vejo as senhoras com suas Bíblias indo ao culto e lembro de quando você percorria o mesmo caminho para cultuar o seu Deus. Quando passava pela porta da sua igreja ouvia sua voz cantando louvores. Ouvia suas orações. A sua vida toda foi um grande clamor pela sua família. Sinto falta de sua fé. Contigo eu confiava mais, confiava mais nas coisas mais difíceis de confiar. Sinto-me órfão de mãe e de fé. Eu sei que você brigaria comigo agora, pois sempre me ensinou a crer por mim mesmo e não ter uma fé “capenga”, aquela que se apóia na fé dos outros. O que posso fazer? É assim que eu sinto.
Outra noite procurei por você. Lembro de quando sentávamos na porta de casa e ficávamos falando da vida e relembrando bons e maus momentos. Chorei bastante, talvez por que pareço contigo. Qualquer coisa você chorava e agora sou eu que sigo essa missão… Na verdade, nós três estamos perdidos sem você. Hoje chegamos à conclusão que você era o alicerce da família, a parte mais forte. Subestimamos sua força. Agora seus três homens choram como crianças perdidas várias horas da noite…
Acredito que todos que te conheceram sintam a sua falta. Sabe aqueles momentos que nos pegamos num pensamento vadio, quando a vida nos dá uma folga para o nada? Esses momentos costumam me levar até você. Enquanto escrevo estas letras estou vivendo um desses momentos. Quando você morreu, passei acreditar na vida eterna. Quando chegou o seu fim, passei a crer que a eternidade é possível. Se você estivesse aqui me daria uma outra bronca por essa heresia. Ah, como queria levar essas broncas! Uma das coisas mais gostosas de quando você brigava com a gente, era quando depois você vinha ao nosso quarto, nos beijava e fazia uma pequena oração. Eu fingia que dormia, mas ouvia sua voz sussurrando palavras mágicas no ouvido de algum anjo vadio.
Mãe, ouvi essa música hoje e lembrei de você. Queria que você pudesse cantá-la para mim e meu irmão. Assim poderíamos dormir sobre seu colo como nos velhos tempos deliciosos de nossas vidas.