O ASSALTO
Meu “muso” dessa crônica devia ter uns 23 anos e era, no mínimo, diferente de quase todos os rapazes de sua idade: escutava atentamente o seu interlocutor, falava pausada e educadamente, vestia-se com calças e camisas sociais, e era um lutador de Ninjutsu (há quem diga que ele apanhava mais do que batia, mas acho que era “intriga da oposição”).
Ele morava sozinho numa quitinete e tinha uma vida nada fácil, que o obrigava, muitas vezes, a comer o pão que “o capeta amassa com o rabo”. Tanta adversidade, entretanto só servia para reforçar três notáveis qualidades suas: humildade, tenacidade e paciência.
Constatei sua humildade quando descobri que, certa vez, tendo recebido inadequada diária para fazer um curso na capital mineira, preferiu comprar água mineral em supermercados para não gastar a do hotel, e para alimentar-se resolveu fazer apenas uma refeição por dia, lá pelas 16 horas, procurando um restaurante de “R$1,99”.
Sua tenacidade ficou clara quando ele me contou que trocara um emprego que lhe pagava mais, por um que o remunerava um pouco menos, apenas para garantir que adquiriria muito mais competência com a nova chefia.
A prova de paciência é a que eu passarei a lhe contar agora, meu leitor. Certa noite, ao deixar a Faculdade, por volta de 23 horas, e dirigir-se a pé (seu único meio de locomoção) para casa, foi abordado por dois bandidos que guiavam uma bicicleta. Os dois “apearam” e um dos sujeitos, com a mão sob a camisa, sugerindo o porte de um revólver, gritou para meu herói:
_ “Perdeu! Perdeu! Entrega o celular!”
Diante dessa “amável" ordem, meu “muso” que acabara de conseguir trocar seu celular monocromático, graças a um amigo que lhe vendera um em 24 prestações de R$10,00 cada, decidiu que não o cederia tão facilmente. Em resposta à determinação dos bandidos, ele agachou-se calmamente, depositou seus pertences escolares no chão e com a mesma voz educada e pausada de sempre, respondeu:
_ “Senhores, não será possível entregar-lhes o celular, pois ele ainda nem é meu! Se vocês não quiserem aceitar esse argumento, infelizmente eu serei forçado a lhes mostrar meus conhecimentos de Ninjutsu. Vamos nos divertir!! Quem vem primeiro? Vocês preferem vir juntos?”
Duvido que os vagabundos soubessem que o Ninjutsu é uma arte marcial japonesa que surgiu no século VI, a partir da necessidade do emprego de espiões (Ninjas) durante o período medieval japonês. Ela consistia num conjunto de técnicas físicas, mentais e espirituais, que capacitavam os agentes a agir em todas as situações num campo de batalha. Após o período de guerras japonesas (Sengoku Jidai), a utilização de espiões caiu em desuso. Assim, muitas escolas desapareceram e outras passaram ao anonimato, sendo responsáveis por manterem vivas as tradições até os dias atuais.
Certamente eles também não deviam conhecer o Klevin (meu estimado Azenclever Gatti Júnior), nossa maior referência nessa arte em Linhares, mas o certo é que os malfeitores estancaram e se mostraram desconcertados. Um virou para o outro e disse:
_ “E agora, meu? O que a gente faz?”
O interrogado virou-se para o meu “muso” e disse:
_”Então... passa todo o seu dinheiro!”
Tolinhos! Se eles soubessem que meu “heroi” é um daqueles para quem o mês é sempre mais longo do que o salário, não teriam pedido tal coisa. Ele, então, lhes disse:
_ “Lamento dizer-lhes que não disponho da pecúnia que lhes interessa. Entretanto, verificarei em meus bolsos e dar-lhes-ei o troco de meu lanche!”
E assim ele procedeu, encontrando três moedas de R$0,10, deu-as aos gatunos, que a contragosto as pegaram. Examinando os valores das mesmas, um disse para o outro:
_”Em vez desse cara arrumar um “ferro” e ir assaltar as pessoas, fica com esse palavrório aí, que a gente não entende nada! Melhor a gente procurar um otário que tenha, pelo menos, dinheiro.”
Bem, suponho que os meliantes não estavam de fato armados, ou poderiam ter se irritado e ferido meu “muso”. Ainda bem, também, que eles não o forçaram a aplicar seus conhecimentos de “ninja”, pois... vai que a “oposição” tinha razão?!?.
Meu “muso” dessa crônica devia ter uns 23 anos e era, no mínimo, diferente de quase todos os rapazes de sua idade: escutava atentamente o seu interlocutor, falava pausada e educadamente, vestia-se com calças e camisas sociais, e era um lutador de Ninjutsu (há quem diga que ele apanhava mais do que batia, mas acho que era “intriga da oposição”).
Ele morava sozinho numa quitinete e tinha uma vida nada fácil, que o obrigava, muitas vezes, a comer o pão que “o capeta amassa com o rabo”. Tanta adversidade, entretanto só servia para reforçar três notáveis qualidades suas: humildade, tenacidade e paciência.
Constatei sua humildade quando descobri que, certa vez, tendo recebido inadequada diária para fazer um curso na capital mineira, preferiu comprar água mineral em supermercados para não gastar a do hotel, e para alimentar-se resolveu fazer apenas uma refeição por dia, lá pelas 16 horas, procurando um restaurante de “R$1,99”.
Sua tenacidade ficou clara quando ele me contou que trocara um emprego que lhe pagava mais, por um que o remunerava um pouco menos, apenas para garantir que adquiriria muito mais competência com a nova chefia.
A prova de paciência é a que eu passarei a lhe contar agora, meu leitor. Certa noite, ao deixar a Faculdade, por volta de 23 horas, e dirigir-se a pé (seu único meio de locomoção) para casa, foi abordado por dois bandidos que guiavam uma bicicleta. Os dois “apearam” e um dos sujeitos, com a mão sob a camisa, sugerindo o porte de um revólver, gritou para meu herói:
_ “Perdeu! Perdeu! Entrega o celular!”
Diante dessa “amável" ordem, meu “muso” que acabara de conseguir trocar seu celular monocromático, graças a um amigo que lhe vendera um em 24 prestações de R$10,00 cada, decidiu que não o cederia tão facilmente. Em resposta à determinação dos bandidos, ele agachou-se calmamente, depositou seus pertences escolares no chão e com a mesma voz educada e pausada de sempre, respondeu:
_ “Senhores, não será possível entregar-lhes o celular, pois ele ainda nem é meu! Se vocês não quiserem aceitar esse argumento, infelizmente eu serei forçado a lhes mostrar meus conhecimentos de Ninjutsu. Vamos nos divertir!! Quem vem primeiro? Vocês preferem vir juntos?”
Duvido que os vagabundos soubessem que o Ninjutsu é uma arte marcial japonesa que surgiu no século VI, a partir da necessidade do emprego de espiões (Ninjas) durante o período medieval japonês. Ela consistia num conjunto de técnicas físicas, mentais e espirituais, que capacitavam os agentes a agir em todas as situações num campo de batalha. Após o período de guerras japonesas (Sengoku Jidai), a utilização de espiões caiu em desuso. Assim, muitas escolas desapareceram e outras passaram ao anonimato, sendo responsáveis por manterem vivas as tradições até os dias atuais.
Certamente eles também não deviam conhecer o Klevin (meu estimado Azenclever Gatti Júnior), nossa maior referência nessa arte em Linhares, mas o certo é que os malfeitores estancaram e se mostraram desconcertados. Um virou para o outro e disse:
_ “E agora, meu? O que a gente faz?”
O interrogado virou-se para o meu “muso” e disse:
_”Então... passa todo o seu dinheiro!”
Tolinhos! Se eles soubessem que meu “heroi” é um daqueles para quem o mês é sempre mais longo do que o salário, não teriam pedido tal coisa. Ele, então, lhes disse:
_ “Lamento dizer-lhes que não disponho da pecúnia que lhes interessa. Entretanto, verificarei em meus bolsos e dar-lhes-ei o troco de meu lanche!”
E assim ele procedeu, encontrando três moedas de R$0,10, deu-as aos gatunos, que a contragosto as pegaram. Examinando os valores das mesmas, um disse para o outro:
_”Em vez desse cara arrumar um “ferro” e ir assaltar as pessoas, fica com esse palavrório aí, que a gente não entende nada! Melhor a gente procurar um otário que tenha, pelo menos, dinheiro.”
Bem, suponho que os meliantes não estavam de fato armados, ou poderiam ter se irritado e ferido meu “muso”. Ainda bem, também, que eles não o forçaram a aplicar seus conhecimentos de “ninja”, pois... vai que a “oposição” tinha razão?!?.