DÁ-LHES, LULU!!
Engana-se quem acha que essa crônica versará sobre a amiga do personagem de história em quadrinhos e desenho animado chamado Bolinha. Ela pretende tão somente ser uma homenagem a uma querida amiga, a quem, às vezes, chamo de Lulu ou Luluzinha. Confio em sua inteligência, meu leitor, para deduzir qual seja o seu nome.
Lulu nasceu há 50 anos, pesando nada menos que 6kg, merecendo destaque na imprensa nacional. Aos 17 anos, ela já pesava 140kg e tinha que conviver com a gracinha dos insensíveis que inventam apelidos perversos como “Rolha de Poço”, “Free Willy”, “Botijão de Gás” e similares, que só contribuem para diminuir a auto-estima e dificultar o processo de emagrecimento.
Há quem pense que todos os gordos são uns esfomeados inveterados e sem vergonhas. Entretanto, o hipotireoidismo, a síndrome de Cushing (conjunto de sinais e sintomas do excesso da cortisona, um dos hormônios produzidos pela glândula supra-renal), a depressão e certos problemas neurológicos ou psicológicos podem levar seus portadores a engordar demasiadamente.
Bem sei o que é isso, pois minha mãe foi obesa, minha irmã mais nova o é, meus dois filhos já o foram e eu, se não parar de me atolar em doces e cerveja, estou caminhando para lá. No meu caso é... “senvergonhice”, mesmo!
Bem, voltemos a Lulu. Comprar roupas era um de seus suplícios já que, à época, não se encontravam modelagens 56 com facilidade. Seus sapatos tinham que ser sempre em números maiores, não por causa do cumprimento dos pés, mas em função de suas larguras. Cadarços? Nem pensar! Não seria possível amarrá-los sozinha, aliás, era difícil até mesmo ver as solas dos pés. A alternativa para vestir-se era comprar malhas (e bota malhas nisso!!) e apelar para as costureiras.
Como Deus costuma compensar as coisas, deu a Luluzinha um rosto meigo, um coração enorme e uma forte determinação para estudar. Assim, ela se tornou uma profissional competente, respeitada e muito querida por seus colegas.
O sucesso no trabalho, entretanto, não pode compensar a dor de ser sempre alvo de gaiatices, de ser esquecida nos cantos, de nunca ser tirada para dançar e muito menos de ter que criar teia de aranha na boca (e em outros lugares também.). Sabe-se lá o que é ver as amigas namorando, ficar segurando velas e ter que dormir sozinha!
Com algum esforço, Lulu conseguiu descer de 140 para 120 kg. Os 20 quilos perdidos, porém, deixaram-lhe uma grande pochete cheia caída sobre “aquela” que quase nunca foi “perseguida”, e dificultaram, ainda mais, a visão do pé da barriga. Isso significa dizer que a visualização de qualquer furúnculo na virilha, por exemplo, continuava exigindo o uso de um espelhinho.
Esse novo peso estacionou até fevereiro de 2007, quando conseguiu realizar o seu sonho: ser submetida a uma cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia do gordo, cirurgia para emagrecer, operação do estômago, redução do estômago ou cirurgia de obesidade mórbida.
Pesquisas dizem que há três tipos de procedimentos cirúrgicos: a Gastroplastia vertical com bandagem (VBG), em que grampos cirúrgicos são usados para dividir o estômago em duas partes; a Banda gástrica ajustável por laparoscopia (Lap-Band), em que uma banda gástrica inflável é colocada ao redor do estômago superior para criar uma bolsa menor e estreitar a passagem para o resto do estômago; e a Derivação gástrica com Y de Roux (RGB), um procedimento em que o cirurgião faz a redução do estômago usando grampos cirúrgicos para criar uma bolsa estomacal menor, fixando-a ao intestino.
Não sei bem a qual procedimento ela foi submetida, mas recentemente eu a vi e a sensação que tive é que a dividiram em duas. Ela está lindona, charmosa, sem papadas, com a pochete vazia, sapatinho do tamanho do pé, calça comprida sem ser de malha, soutien 44 (acho)... Um luxo!
Abracei-a carinhosamente e ao seu ouvido perguntei se a “dita cuja” outrora esquecida, agora estava sendo perseguida. Com um largo sorriso ela me disse que “quem não quis comer a banha, agora não vai se deliciar com a picanha macia”. Aproveitou para me fazer uma encomenda:”_Na próxima vez que você voltar de BH, traga-me uns gatinhos de uns 16 anos para eu dar uns tratos neles!!”
Dá-lhes, Lulu!!