SALA DE ESPERA

O ambiente onde tudo aconteceu não era dos mais agradáveis – um hospital.

Para que as pessoas chegassem àquela ampla sala de espera, necessariamente, percorriam

longos caminhos e enfrentavam algumas horas de filas até conseguirem agendar o exame,

gratuito e sofisticado, no único lugar possível para os que não dispunham de convênio médico ou de recursos financeiros.

Os pacientes passavam dos quarenta anos. Havia até alguns bastante idosos.

Apreensivos, em sua maioria, permaneciam absurdamente calados. Alguns acompanhantes tentavam suavizar a inquietação dos doentes, geralmente sem muito sucesso. Ocorria, vez ou outra, um hiato preenchido por um silêncio assustador, afinal o momento do exame se aproximava.

O dia estava frio. Uma janela insistia em bater, devido ao constante contato com o vento, provocando mais tensão no local. Parecia infindável a espera e, também, a quantidade de pessoas que chegava e se juntava à multidão ali presente.

Finalmente, de modo vagaroso, iniciou-se a chamada dos enfermos, e os mais experientes, enquanto aguardavam a vez, relatavam o que sabiam, pois já haviam se submetido ao referido exame. Diziam das sensações, dos perigos, da delicadeza dos procedimentos médicos até chegar-se ao diagnóstico final. Essas conversas só aumentavam a angústia dos doentes.

Já com o salão repleto, espaços literalmente tomados, eis que entraram na sala duas senhoras. Traziam uma graciosa menina de aproximadamente cinco anos. Bem vestida, muito bonitinha, com uma tiara sobre a cabeça, emoldurando um semblante feliz.

Tinha cabelos negros e lisos caindo sobre o rosto branquinho, iluminado por olhos escuros, mas vivos, muito vivos!

Quase que simultaneamente entrou um casal com seu garoto estampando um sorriso sem medida. Ele chegou estridente; calçava uma botinha preta, nova em folha , todo orgulhoso, nas roupas bem limpas e cuidadas. Claro que a empatia entre esses dois inocentes foi imediata.

Um certo senhor que permanecia soturno há bem mais de três horas, atento ao entrar e sair das pessoas, de repente se transformou. Seu rosto se iluminou com aquelas crianças que, indiferentes aos acontecimentos da sala de exames que se abria e se fechava sem parar,seguiam se comunicando, se conhecendo e provocando então o que parecia impossível – sorrisos e até gargalhadas entre todos os presentes.

O trocar de balinhas, chicletes, vidas tão intensas pulsando, causaram um bem estar geral, e então o homem rude esqueceu seus problemas, voltou no tempo, envolvendo-se tanto com aqueles pirralhos que passou a interagir e brincar com eles.

O antes sério e calado cidadão se pôs a aplicar os conhecimentos de menino que foi um dia, e as crianças se deliciaram com seus truques, algumas mágicas improvisadas. E o que era um ambiente de hospital transformou-se no quintal de cada um, na sala de visitas, e todos seguiram contagiando-se com aquela felicidade momentânea.

De fato foram instantes efêmeros de alegria, mas verdadeiros e prova viva que Deus estava ali, primeiro no chegar dos dois pequeninos, depois na transformação daquele homem sisudo e por ultimo no coração de todos os presentes.

Mais uma grande lição, uma proveitosa aula foi dada num lugar aparentemente inadequado, onde os mestres foram duas crianças, que roubaram a cena até então pesada, quase fúnebre, e transformaram a dor daquelas pessoas em sorriso, calor, e por que não dizer em amor?!