O CINEMA

O CINEMA

Na época em que foram concluídas as obras da adaptação do Shopping Jacareí, logo depois da inauguração, todas as tardes eu passava por lá na esperança de ver o espaço do cinema em funcionamento, pois, mesmo com o shopping já funcionando, me parece que as salas de exibição ainda estavam sofrendo algumas adequações, o que retardou o seu funcionamento. Isso me causou uma enorme ansiedade, tanta que em uma dessas tardes, quando cheguei ao andar superior e vi, enfim o cinema funcionando, me enchi de uma grande emoção!

Atribuo a emoção que senti às doces lembranças que tenho dos cinemas que outrora existiram em nossa cidade, o que eles representavam para a sociedade, como veículo de aquisição de conhecimento, e do glamour que era freqüentá-los.

Ir a uma sessão de cinema, até mais ou menos a década de oitenta, quando infelizmente perdemos as nossas salas de projeção, era uma verdadeira maravilha! Usava-se a melhor roupa e combinava-se encontros na porta com as amigas ou com alguém com quem se estava “flertando”. Sim, porque na época havia o flerte, que era consumado quando se aceitava um convite, para uma sessão de cinema com direito a tímidos beijos com sabor cítrico do Drops Dulcora ou do doce romântico do Sonho de Valsa, comprados pelo elegante cavalheiro na bomboniere espelhada da elegante sala de espera.

O espaço físico do cinema era por si só fascinante! O hall de entrada com luminárias nas paredes com luzes direcionadas aos pôsteres dos maravilhosos atores de Hollywood, a cortina de denso veludo vermelho reservando o espaço de apresentação de um espetáculo sempre causador de emoções únicas, o odor indescritível de assepsia e aquele sinal maravilhoso alertando que logo as luzes seriam apagadas e mais uma sessão da encantadora magia ia iniciar. Uma magia envolvente que se repetia a cada filme que se assistia e que ficaria para sempre gravada em nossas lembranças.

O mundo ainda nem sonhava com a globalização e o cinema nos remetia a mundos e realidades longínquas, cheias de glamour, beleza, e emoções.

Tive a felicidade de nascer em uma família freqüentadora habitual de sessões de cinema e, bem cedo também comecei a freqüentá-las. Não me sai da lembrança um dos primeiros filmes que assisti, junto com a minha mãe na antiga matinê de domingo: “Marcelino Pão e Vinho”.

Daí pra frente, fui tomada pelo encantamento daquela tela enorme que, de tão mágica conseguia referendar as fantasias que como criança eu construía e assim estabeleci com o cinema uma cumplicidade e um diálogo eternos que foram bruscamente interrompidos!

Até freqüentava sessões em outros lugares, mas não era a mesma coisa, sempre fui meio ufanista com a minha cidade! Por isso me emocionei quando, enfim, o cinema foi inaugurado no Shoppig Jacareí e que espero que ali pra sempre permaneça!

Escrevi relacionando lembranças femininas porque é mais comum às mulheres a emoção e a saudade, mas, garanto que muitos homens também sentiam muita falta de um cinema por aqui...