Amanhã

Casa de avó é sempre um lugar de descontração, com aspecto familiar e agradável. É a casa dos doces, na qual os netos fazem a festa.

Num desses domingos ensolarados, nós, os netos, estávamos sentados na varanda a saborear um delicioso pudim na sobremesa.

Fechada no meu mundinho interior, eu observava os carros que passavam na rua apressados e comecei a me perguntar o porquê das pessoas estarem sempre com pressa. Elas vivem como se não existisse presente, só futuro. De tudo querem tirar uma moral, uma lição, um motivo.

Assistem a um filme pensando em aprender algo, lêem um livro procurando a moral da história. Por que não assistimos a um filme só por diversão? Por que não lemos um livro só para nos distrair? Por que procuramos sentido para tudo? As coisas são assim porque são.

No meio desses meus pensamentos malucos, meu primo mais novo (um desses que é o xodó da família ) me interrompe para contar sobre um passeio.

Contou o passeio como um criança de três anos conta: esquecendo algumas coisas, faltando algumas palavras; mas nós sempre achamos graça.

No fim da pequena narrativa, perguntei-lhe quando ocorreu o passeio e ouvi um sonoro “amanhã!” Uma interrogação pairou no ar. Tornei a lhe fazer a mesma pergunta e a resposta também foi a mesma: “amanhã!”

Eu e uma prima que observava a cena começamos a rir. Tentei explicar a ele, de todas as formas, que amanhã é o dia que ainda vai chegar e ontem o que já passou.

Ele contou novamente a história e eu lhe pergutei quando aconteceu, a resposta foi... “Amanhã!”

Voltei para meu interior e pensei: “Até ele já se contaminou!”

As pessoas sempre vão ser as mesmas.

E, por favor, não tentem tirar uma lição dessa crônica. Leia como se comesse um pudim: só para saborear!

(09/11/2006)