A Formação do Leitor
Tenho lido, no Recanto das Letras, muitos textos sobre preconceito. Já li sobre preconceito racial, sexual, político, social, lingüístico e, agora, sobre preconceito em relação ao que as pessoas lêem. Na verdade, o texto em si não é uma reflexão sobre a discriminação, ele é a própria.
Muitos escritores discursam sobre a falta de interesse dos brasileiros pela leitura e reclamam que os jovens não são estimulados pela família e pela escola a desenvolver o hábito de ler. Não gosto da palavra hábito para esse caso, prefiro dizer o prazer da leitura. Durante a faculdade ouvi muitos professores exaltando certos autores e menosprezando outros. Os autores de livros de auto-ajuda eram os maiores alvos de ataques, sendo considerados como lixo.
Os artigos que li e as aulas que tive durante a minha formação enfatizavam que a formação do leitor tem por base o despertar do prazer de ler a partir do que o novo leitor já conhece, a partir do que ele gosta, das coisas que interessam, que causam aquele click para que se dê início ao processo. Claro que os livros que li sugeriam leituras consideradas mais ricas, mais importantes e mais consagradas, mas para alguém que ainda não lê assiduamente, começar por um livro qualquer, já é um avanço.
Coloquem-se no lugar de alguém que não costuma ler. Se na primeira oportunidade de leitura vier alguém lhe dizer que aquele tipo de livro é uma grande porcaria e que você deveria ler Machado de Assis, Érico Veríssimo entre outros autores consagrados, você vai continuar sentindo-se motivado? Você já tinha vencido a resistência inicial para com os livros e vem alguém jogar um balde de água fria na sua caminhada, que está só começando. Naquele momento, a obra que está sendo lida, é a obra que por acaso caiu nas mãos daquele leitor em potencial e foi por aquele assunto que, por algum motivo, ele se interessou. O “click” já aconteceu. Uma porta já foi aberta para a leitura.
Eu acredito que a partir de leituras mais simples se possam formar grandes leitores. É como aprender a ler (decodificar) e escrever. Começamos pelas atividades mais fáceis e vamos evoluindo até que consigamos ler e escrever um texto inteiro. E nesse sentido acho que as crônicas, como textos leves e cotidianos, são ótimas para dar o pontapé inicial na formação de leitores. Assim como os livros de auto-ajuda para aquelas pessoas que por algum motivo se interessam por eles.
Então, ao invés de ficarmos reclamando que o brasileiro não lê, vamos deixar o preconceito de lado e permitir que ele inicie o processo por onde lhe parecer mais agradável, afinal ler deve ser um imenso prazer e não um castigo.