CEREJEIRAS em FLOR - 100 anos da imigração japonesa no Brasil
No dia 18 de junho de 1908, chegou ao porto de Santos, o navio Kasato Maru, trazendo os primeiros imigrantes ao Brasil.
No dia 25 de agosto de 1925, meus avós maternos, minha mãe e mais três irmãos desembarcam no Porto de Santos, de lá foram até São Paulo de onde são encaminhados a uma fazenda de café, no município de Cambará, na região norte do Paraná.
A exemplo de tantos que para cá vieram, sonhavam um dia voltar ao Japão.Meu avô, um empresário que sofreu com as dificuldades econômicas enfrentadas por lá, no fundo, sabia que dificilmente retornaria.
A minha mãe chegou aqui com onze anos, e ainda guarda na sua memória muitas lembranças das coisas que encontrou quando da sua chegada. Ao encontrar um mundo diferente, costumes diferentes,uma língua completamente estranha e principalmente uma flora diferente, diz ela que gostou muito, e sendo criança adorou a novidade.
Logo que chegaram em Cambará, numa localidade chamada Água dos Coqueiros, viu as matas cobrirem-se de amarelo.Instigada pela curiosidade foi verificar do que se tratava - encontrou árvores cobertas de lindas flores amarelas.Ela ficou encantada e emocionada ao presenciar tão belo espetáculo.Hoje ela sabe que aquela visão mágica era proporcionada por flores de ipê.Mais tarde encontraria as belezas contagiantes das paineiras, repletas de flores visitadas por irriquietos beija-flores.Encontrou também muitas espécies de pequenas flores com suave perfume. Ah! E que dizer do cafezal em flor, difícil descrever a sensação que gera aquela brancura perfumada que inebria e gera riqueza.
Mas, e o sakurá?
Sakurá é o nome da cerejeira do japão. Na fazenda ela não viu sakurá, mas não faz mal, como tantas outras coisas o sakurá permaneceria indelével na sua lembrança.Quem sabe um dia poderia encontrá-lo.
O sakurá, a exemplo do ipê, produz única florada no ano, de efêmera duração.No Japão, há uma festa conhecida como ¨HANAMI¨ que significa ver as flores ( Hana=flor(es) ; MI=Ver).
O sakurá é a flor sagrada do Japão.
Para os japonêses o sakurá é o simbolo da felicidade, embora também tenho o seu lado trágico, por exemplo, para os antigos samurais não havia glória maior do que morrer num campo de batalha coberto de pétalas das flores de cerejeiras. No teatro Kabuki, sua presença no cenário pode indicar que haverá uma tragédia.
Imigrantes japonêses, principalmente,na década de 1970, no estado de São Paulo começaram a desenvolver mudas dessa planta com o intuíto de adaptararem-na ao clima brasileiro.Com muita paciência e esforço, conseguiram.
Há uma estimativa de que no Japão, existam cerca de 200 espécies de cerejeiras, com flores que vão do branco ao vermelho.
A espécie que melhor se adaptou ao Brasil, foi a cerejeira da ilha de Okinawa (Okinawa sakurá). Essa ilha possui características climáticas encontradas em regiões do Brasil.
No norte do Paraná, sobretudo na cidade de Apucarana,milhares de cerejeiras foram plantadas, a partir da década de 1980.
Neste momento, coincidindo com as festividades alusivas aos cem anos da imigração japonêsa, milhares de cerejeiras estão cobertas de flores.
Os imigrantes japoneses, agora podem rever e contemplar as flores das cerejeiras que vieram juntar-se à riquissima flora brasileira.Aos ipês, paineiras,jacarandás, às sibipirunas que ficam coberta de flores douradas e esparramam ouro sobre as calçadas em frente de suas casas, etc.
Se hoje já se pode contemplar cerejeiras em flor, muitos habitantes desta região devem estar sentindo saudades das floradas dos cafezais que outrora cobriam as terras do norte do Paraná.
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Notas: - Informações sobre o sakurá são encontradas no site: WWW.fjsp.org.br - da Fundação Japão de São Paulo.
- Dos cafezais que praticamente cobriam o norte do Paraná, e foram responsáveis no desenvolvimento dessa região,pouquísimos são vistos.