Só_lidão

A cada dia mais me perco como gente. Canso-me da vida cotidiana e do mal estar das pessoas enquanto povo.

Às vezes sinto que o calor do sol já não me atinge, nem o clarão da lua me faz sombra. Ando na multidão com passos desconexos. Em calçadas despedaçadas vejo os desmandos das autoridades nada competentes. A solidão da alma é outra coisa: me tira farpas pontiagudas, me põe em ângulos obtusos em relação aos outros e a mim mesmo. Este estado de individualidade provoca dormência em minha mente e a faz embotar. Ainda assim e não raro, adoro esta situação de conflito. Isto permite que eu esconda minhas mazelas enquanto vago por entre as frestas do dia e da noite. Este retiro particular provoca em mim o desejo incontido de chegar em casa com as luzes apagas. Sem ninguém para abrir a porta, com as roupas para lavar e o mundo entre as quatro paredes de cabeça para baixo.

O isolamento não significa estar sozinho ou mal acompanhado. Muitas vezes meus amigos fazem de tudo para ajudar-me a sair desse achaque, mas há momentos que nem eles conseguem fazer nada por mim. Quando me encontro neste estado a dor aprofunda. É como se minha alma estivesse me deixando para trás. Meu interior experimenta o frio e a fome. Sinto como se fosse possível a separação carnal do meu “eu” e meu Deus. Um exemplo deste Estado de coisas é quando me encontro nas mãos do outro. Quando o outro decide por mim. Nesses momentos tenho a certeza de que vim ao mundo sem qualquer proteção.

É importante dizer que a solidão da alma não me vem ao acaso e sim, com os monstros que criei como se fossem uma floresta de bichos. Estas bestas não têm corpo, nem forma, mas em minha mente têm nomes e sobrenomes.

Não importa o que os outros façam por mim agora, nem tão pouco tem valor o que poderão fazer no futuro. O que comanda minha solidão são as angústias fincadas no peito no dia a dia, se não as domo, me comem vivo.

Apesar de tudo não sou um homem triste nem só: mas é na solidão que crio e teço os grandes sonhos, é na solidão que contemplo o belo, é na solidão que me encontro, é na hora de bater o prego é que me furo.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 16/06/2008
Reeditado em 04/10/2017
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