A NOITE DO DIA DOS NAMORADOS .

 

    Quero tranqüilizar minha meia dúzia de leitores. Não sou azarado. Apenas, às vezes acontecem comigo certas coisas inacreditáveis que sem dúvida seriam cômicas se não fossem trágicas.

    O combinado foi o seguinte: estaria no escritório até às 18:00, pegaria o carro e iria me encontrar com minha mulher num restaurante já nosso conhecido e que ficava próximo a uma bela praia. Às vezes é absolutamente necessário um clima romântico no casamento e aproveitaríamos o Dia dos Namorados para curtir um bom jantar e um belo complemento de noitada.

    Minha mulher já tinha me telefonado confirmando que tomaria um táxi e iria direto para o restaurante. Detalhe importante, ela estava ligando de um salão de beleza onde tinha aproveitado para dar uns retoques e um colorido nos cabelos.

    Abro um parêntese para comentar o seguinte. Colorido no cabelo pra quê ? Para brilhar no escuro ? Voltando aos fatos, exatamente às 18 horas fechei a porta da minha sala e em seguida tomei o elevador e fui para o estacionamento. Ao sair do prédio caí num brutal engarrafamento.

    Como tinha saído mais cedo, calculei que mesmo com o trânsito engarrafado chegaria ao restaurante sem nenhum problema. Devia ter calculado melhor. Se eu fosse esperto e muito mais inteligente do que sou, deveria ter saído na véspera para não faltar àquele encontro. Andando alguns milímetros a cada dez minutos, lembrei-me de ligar para o celular da minha mulher e confirmar que eu já estava a caminho. Mas onde estava o meu celular ?

    Um frio gelado me percorreu a espinha. Tinha esquecido o danado do aparelho em cima da mesa. À muito custo, consegui chegar até um posto de combustíveis e para evitar quaisquer transtornos, resolvi ligar para minha casa ou para o celular da minha mulher de um telefone público . Procurei na minha carteira um cartão telefônico e não tinha nenhum.

    Outro frio gelado percorreu minha espinha , mas até me senti um pouco aliviado por que naquele posto tinha uma loja de conveniências. O detalhe é que naquela loja não tinha cartões telefônicos, só numa padaria que ficava no outro lado da rua. Não sei se vocês já tentaram atravessar uma avenida congestionada. Eu tinha que tentar.

    Dei uns trocados para o empregado do posto, estacionei o carro num canto e me aventurei a atravessar aquele pantanoso terreno recheado de carros e motoristas impacientes e quem sabe alguns crocodilos com a bocarra escancarada. Mas cheguei até a padaria. Só que lá não tinha cartões telefônicos, só no posto de combustíveis ou num barzinho animadíssimo, onde uma turma tocava pagode e comemorava alguma coisa.

   O bar e o posto ficavam exatamente do outro lado da rua. , justamente onde eu estava antes. Novamente entrei naquele pantanal de carros e crocodilos e fui para o outro lado da avenida, já sabendo que no posto não tinha cartões telefônicos. Cheguei até o barzinho. Só que o último cartão tinha acabado de ser vendido para um dos estavam cantando pagode.

    Outro frio gelado percorreu minha espinha. Perguntei qual dos animados pagodeiros tinha comprado o cartão (estava meio sem jeito de pedir um celular emprestado e minha mulher jamais atenderia uma ligação à cobrar de número estranho). O moço , que parecia ser o líder da brincadeira (na verdade era o aniversariante do dia), disse em voz alta que me daria o cartão de graça se eu cantasse um pagode com eles.

    Mais um frio gelado percorreu minha espinha. O tempo passava, o engarrafamento aumentava. Resolvi cantar o “Deixa a vida me levar” que aliás ficou tão ruim, que ninguém quis que eu cantasse a segunda parte. Peguei o cartão, fiz um brinde com um copo de chope e voei para o telefone público do posto de gasolina.

    O telefone estava enguiçado. Perguntei ao empregado do posto se havia outro telefone mais próximo e ele me informou que talvez na padaria do outro lado da rua tivesse. Bem, o engarrafamento e os crocodilos ainda estavam no mesmo lugar e portanto, para evitar, digamos, probleminhas como minha mulher, atravessei a avenida e fui telefonar na padaria.

    Interessante como deixamos de prestar a atenção nas coisas mais importantes quando estamos com pressa. Na padaria não tinha telefone público. Sabem onde tinha um aparelho funcionando e muito bem ? No mesmo barzinho em que troquei o cartão telefônico por uma interpretação do “Deixa a vida me levar”.

    E finalmente (já estava demorando ) a vida me levou. Consegui falar com minha mulher. Justifiquei antecipadamente um possível atraso por conta do engarrafamento. Ela me tranqüilizou, dizendo que também estava num táxi.

    Entretanto, um frio gelado percorreu minha espinha. Pensei que teria que cantar de novo, mas os pagodeiros fingiram que não estavam me vendo. Ainda bem. Meti o carro na estrada e com ar preocupado, voltei a fazer parte daquele enorme cordão de vítimas habituais de engarrafamentos num pantanal cheio de crocodilos.

    Com quase uma hora de atraso consegui chegar ao local do encontro. O restaurante estava às escuras e minha mulher na porta, com uma blusa de seda vermelha e cabelos coloridos (que não brilhavam no escuro) me aguardava com ar de poucas amigas. Entrou no carro sem dar uma palavra e só então vi um enorme letreiro informando que o tal restaurante estava fechado para reformas.

    Resultado, rodei algumas horas para fazer o retorno, caí em novo engarrafamento e que vinha em sentido contrario ao que estava indo e minha noite terminou numa das lanchonetes do Mac Donalds, onde devorei dois hamburgueres, com batatas fritas e um copo duplo de coca-cola . Minha mulher beliscou algumas batatinhas e só voltou a falar comigo dois dias depois,......

 

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(Não posso me queixar. Afinal de contas, tive muita sorte. Já pensaram se me desse vontade de ir ao banheiro enquanto estivesse preso no engarrafamento ?)




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 16/06/2008
Reeditado em 22/01/2013
Código do texto: T1036531
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