PLANO DE SAÚDE

Meu habitual leitor sabe sobre minha dor nas costas e sobre a ressonância magnética que eu ainda não fiz, porque meu plano de saúde não permitiu.

Daquela crônica para cá, minha dor está bem calminha, mas ando procurando um plano de doença, por uma questão de prevenção, embora espere não usá-lo.

Está difícil!  Só encontro plano de saúde! O pior é que eu sei que a contratação de um novo plano exigirá que eu fique um tempão proibida de adoecer por causa de uma tal de “carência”.

Tenho em minhas mãos uma ficha de ENTREVISTA QUALIFICADA de uma importante associação médica nacional. Ela me informa que devo assumir minhas respostas, “sob pena de imputação de fraude sujeita à suspensão ou denúncia do contrato firmado nos termos da legislação vigente”.

A seguir, a pessoa que redigiu a ficha informa logo: DECLARAÇÃO DE SAÚDE! (uma evidência de que o negócio da empresa é esse)  e faz 25 perguntas sobre mim e meus dependentes. Assim, é com esse redator que converso a partir desse parágrafo.

Começarei com a segunda pergunta, sobre já termos sofrido algum acidente. A resposta é: GRAÇAS A DEUS, NÃO! Por quê? Quem sofreu está fora?

Para a questão que quer saber se eu e meus dependentes já fomos submetidos a cirurgias, a resposta é SIM. Eu já fui submetida a duas cesarianas. Tem mais: meu filho mais velho quebrou um dedo do pé e o mais novo teve sua fimose extirpada. Não pode não? Quer dizer que eu era obrigada a parir os guris pelo “buraco certo”, mesmo eles estando sentados no meu útero? Ah, além disso, meu primogênito tinha que ficar com o dedão quebrado, e o caçula deveria esperar juntar um palmo de pele no..."lá", não é?

A investigação continua querendo saber se temos indicação de algum tratamento clínico ou cirúrgico que não tenha sido realizado. Ora bolas, para que perguntar isso se os contratantes têm que ficar um tempão sem poder usar o plano?

Informo que não temos prótese, platina, parafuso, embora meu filho mais velho tenha um fio de metal no tal dedo. Também não somos diabéticos, e só fomos internados para as cirurgias citadas.

Minha bola de cristal me informa que não temos nenhuma doença no estômago, nos intestinos, no fígado e nem na vesícula. Tenho uma dor nas costas, mas meus conhecimentos médicos não sabem informar  se a causa é ortopédica, hérnia de disco, ou se é osteoporose.

Não temos pressão alta (embora essa investigação me irrite muito!), doença no coração, sopro ou problema circulatório, nem nos rins, bexiga ou próstata (e eu lá tenho isso, cara?).

Também não temos Aids, hepatite, tuberculose, doença neurológica, psiquiátrica, mal de Parkinson, Alzheimer, epilepsia e nem outra similar.

Meu pulmão deve ser preto, pois sou fumante, mas não tenho dificuldades respiratórias e nem enfisema pulmonar.

Meu filho tem ceratocone, mas eu já “morri” em R$8.000,00 para colocar dois anéis de Ferrara nos olhos dele e está tudo bem. Ninguém de nós tem miopia, astigmatismo, catarata, glaucoma e muito menos o “etc.” Também os nossos ouvidos, narizes e gargantas vão “muito bem, obrigada”.

Que nós saibamos, não somos portadores de câncer, leucemia, linfomas e nem de nódulos, portanto não temos indicação para quimioterapia, radioterapia e nem diálise.

Não somos usuários de drogas, embora eu fume e beba socialmente. Estou acima do peso ideal, mas como com meu dinheiro, sou ágil e danço melhor do muita gente esbelta.

Obviamente eu e meu marido não somos estéreis, minhas varizes não me incomodam e minhas hemorróidas voltaram a doer depois desse interrogatório (Acho que o redator do formulário queria mesmo era trabalhar na Polícia Federal).

Por fim, volto à primeira pergunta que investiga se nascemos com algum problema ou má formação. A resposta é SIM! Minha família nasceu sabendo pensar. Isso é um problema sério num país cujo governo escorche os cidadãos com um monte de impostos, não oferece dignos serviços de saúde, e ainda permite que haja leis com uma tal de 9.656/98, que, dizem, ampara umas indecências como essa “entrevista”.







NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 16/06/2008
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T1036444
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