ADORO SER DONA DE CASA

Tem coisa pior que lavar meias? E quando brancas, saídas de pés suados e com marca de graxa de sapato preto?

Tem coisa pior que abaixar e levantar varal? E, quando as cordinhas escorregam das mãos molhadas e levamos uma bruta lapada na cabeça? Mesmo assim, temos que aguentar a dor e continuar o ritual de estender as benditas roupas!

Ah! Mas tem coisa bem pior... Depois de tudo faxinado, arrumado, aprumado, melhorado, organizado, você vai abrir a geladeira para tomar água ou refrigerante, constata, às duras penas, que quem ali esteve antes de você não tampou direito aquilo que abriu. Se for a garrafa d’agua, menos mal. Se for o refrigerante, que logo se espalha por dentro da geladeira, tomando conta de tudo e depois desce de porta a baixo se espalhando pelo chão? Aí começa a sessão extraordinária de limpeza... Adeus descanso!

No forno está o bolo, quase assado. Ao tirá-lo, surpresa: está solado... É mesmo o fim da picada! O arroz grudou, o feijão não cozinhou direito, a panela de pressão quase explodiu, o botijão de gás acabou e você não sabe trocar. O que fazer? Depois de muito pelejar, você consegue por o almoço na mesa. Aí um pergunta: não tem macarronada não?! Você bem prevenida que é, logo responde: tem sim! É só colocar no microondas... Vai falando e vai executando a nova tarefa. Eis que, ao abrir mais uma vez a geladeira, para pegar o ketchup, com tampa mal fechada, o vidro cai de sua mão, quebra e a exasperação se manifesta... De forma branda, quieta... Você respira fundo, conta até dez e começa a limpar tudo de novo.Controle em pleno funcionamento... Você vai tirando tudo de letra, entre uma limpada e outra.

E o danado do telefone que não pára de tocar? Alguém querendo vender alguma coisa que não lhe interessa... Haja atrapalho!

Você está de cozinheira, arrumadeira, faxineira, lavadeira, lutando contra o tempo. Até por que, você também trabalha fora e precisa sair o quanto antes, para não se atrasar. O telefone toca mais uma vez. Alguém, do outro lado da linha lhe oferece um lote no cemitério, seguro ataúde e lhe diz tratar-se de excelente negócio. “O preço promocional é uma verdadeira pechincha...” - É mole?!

Controle jogado às favas, o verbo apruma na ponta da língua e a voz não sai. A raiva é tanta que você cega, entorta, desanda e se lança a chorar feito criança. Ser dona de casa cansa. Só em lembrar me dá ânsia...

Mas não! Tudo agora é deprê e não sei mais o quê... E você se convence que é mesmo doença séria e corre para o médico.O “doutor”, que não cura as dores, também está de deprê e não sei mais o quê... Fala: seu problema é “olho gordo” ! O meu também, sabia?!

-Tem um fulano que se duvidar, botou meu nome na boca do sapo, amarrou e enterrou, tudo por pura inveja, pra acabar comigo, conta ele... Nada que um bom banho de mar, ao raiar do dia, não cure, não mude... - Recomenda!

É isto aí seu Doutor, a receita prescrita foi aceita, está perfeita! Mas, tem que ser mesmo ao raiar do dia?!