XADREZINHO II, O RETORNO

SINOPSE DO XADREZINHO I
Cinco universitárias de boas famílias de Linhares visitam Brasília, a convite de uma colega do curso de Letras, cunhada do então Deputado Federal por Cariacica, em 1978.

Deslumbradas com as belezas da capital federal, as seis amigas atrasam-se para tomar o ônibus com os demais excursionistas que iriam jantar, e vêem-se, então, arrumadas, perfumadas, famintas e presas no alojamento, já que o local era muito distante do centro da cidade e não contava com serviço de taxi por perto.

As seis resolvem pedir carona a três senhores idosos, num Opala, que, por acaso, apareceram por lá. Após rodar pelo centro, em busca do “ônibus perdido”, os “moços” resolveram levá-las para “jantar” na Xadrezinho, uma longínqua boate.

Desesperadas, as seis amigas subornam um garçom para confirmar uma tragédia(inventada) e conseguem convencer os três velhotes a devolvê-las ao alojamento.

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O inconformismo por estamos em Brasília, formosas, cheirosas e com FOME, fez com que nós nos sentássemos no saguão do alojamento e torcêssemos, mais uma vez, para que aparecesse um taxi ou uma nova carona.

Por volta de meia noite e meia, chegou um Passat vermelho. Era um rapaz que fora deixar sua namorada no alojamento.  Tão logo a moça entrou, fomos pedir-lhe carona e ele, pego de surpresa, não nos negou.

Quando três de nós já estávamos no banco traseiro do carro, eis que voltou a namorada do rapaz e viu o seu amado enchendo o carro de mulher. Já imaginou a cena? As três do lado de fora se agacharam para que a moça não as visse; nós três, já no interior do veículo, quisemos ficar invisíveis, ou que aparecesse um buraco para nos escondermos... E o rapaz? Penso que ele quis morrer. Por sorte a moça não fez escândalo, não deu na cara dele e nem na nossa, (eu teria dado!).

Quando a amada do rapaz deu as costas, voltando para o “hotel”, elas, descaradamente, acabaram de entrar no Passat. O que a fome não faz, meu Deus! Sem uma palavra, o moço nos levou ao centro da cidade e nos deixou perto do primeiro conjunto residencial que achou.

Saciamos nossa fome em um barzinho, nos empanturrando de batatas fritas e iscas de filé. Com sono, faltava-nos achar um taxi ou uma carona para voltarmos ao alojamento.


Repentinamente, chegaram alguns rapazes ao barzinho e entabularam uma conversa besta conosco. Hoje, eu imagino que eles devem ser os pais ou irmãos mais velhos daqueles jovens desgraçados, que atearam fogo ao índio pataxó, Gaudino, há alguns anos. Quando resolvemos revidar e colocá-los em seus devidos lugares, eles decidiram nos dar uma carreira.

Imagina seis moças, às duas horas da madrugada, correndo de sapatos altos, por mais de 300m, numa cidade desconhecida e deserta! Só nos livramos, porque nos embrenhamos no meio de um conjunto de prédios e um deles estava com a portaria aberta. Provavelmente os caras pensaram que morávamos lá.

Sem fôlego, sem respirar e com medo, esperamos uns 20min até que criamos coragem para sair do saguão, rirmos muito de nós mesmas e procurarmos um bendito taxi. Brotamos numa avenida que devia ter uns 200m de largura e não sei quantas pistas de rolamento. Não tínhamos nenhuma noção de onde nos encontrávamos, não sabíamos se estávamos caminhando para o centro ou voltando, a pé, para o Espírito Santo.

Dois faróis apareceram bem longe e, sem combinarmos, fizemos um paredão no meio da pista (algo como a imagem daquele jovem chinês que, com seu corpo tentou barrar tanques de guerra na Praça Celestial de Pequim), acenando desesperadamente. Nem tivemos medo de ser atropeladas.

Não era um taxi. Era um Opala. Adivinha de quem? Não! Se fossem os velhotes do Xadrezinho I, a gente iria morrer do coração.  Por sorte era o Paulo Cruz, um jornalista do Correio Brasiliense, (que muito riu de nossa história), de quem nos tornamos amigas.

Naquela noite, nenhuma de nós esqueceu-se de rezar a oração do “Santo Anjo”, agradecendo-lhe pela noite em que escapulimos de virar “jantar” de anciões e “microondas*” de delinqüentes.

 

* “Microondas” é um termo usado por facínoras, que matam seus desafetos amarrando-os, colocando-os dentro de uma pilha grande de pneus e ateando-lhes fogo.