O amor e as sem razões....
O amor e as sem razões....
13/06/2008
Mais um ano que estamos juntos. Quantos fazem? Não sei, perdi as contas, afinal, nunca fui boa em números, eles andam longe de mim, atormentado os seres pensantes que adoram contar, dias, meses, anos e dinheiro. Entretanto, as palavras... As palavras... Elas desfilam, atordoam, massacram e são minhas do começo ao fim, como tu és meu! (Acho...) Tudo, tudo se misturou entre nós, profissões, alunos, filhos, casa, modo de viver, ( acho...), afazeres domésticos, músicas, os vinhos, menos o teatro e a literatura, pois não és chegado a leitura literária. Não sei mais onde tu começas ou terminas sem estar conectado em mim, somos nós dois do começo ao fim!!
Os anos atravessaram o branco dos cabelos, as marcas invisíveis do tempo e a solidão desarmônica de cada um, mas, estamos juntos. Venho te dizer amo... Porém não é um amor pueril, ingênuo e romântico de contos de fadas, de príncipes encantados chegando de cavalo branco e outras bobices!! Te aceito de cabelos mal cortados, roupas em cores que não se harmonizam como uma música desafinada e carro velho mesmo, feito a música da Ivete Sangalo “Eu vou de carro velho amor...” É um amor real, carnal de vida própria, cheio de brigas com alguns tormentos particulares e insanos!! Afinal, para as literárias, a vida tranqüila se escapa entre os dedos e sai correndo para as palavras estouvadas, tentando
encontrar um rio que lhes mate a sede de paz.
Os dias, os meses e os anos foram chegando, às vezes com pressa, e outros tão devagar, foram deixando marcas indizíveis nas nossas vidas. Contudo, amo!! Talvez, não sejam, aqueles amores puros, sensatos, ponderados e equilibrados. “O meu amor puro pulou o muro”, diz o poeta Chacal. Já o meu se esparramou vida afora jogando fagulhas incandescentes por onde passa... Algumas destas centelhas queimam e doem quando se transformam em palavras... Palavras, malditas palavras... Elas são em excesso quando brigamos desatinados procurando razões, motivos, pretextos e contextos que nos justifiquem em nossas teorias absurdas e dantescas em vezes várias.
“ Não me peçam razões, que não as tenho, ou darei várias quantas queiram, bem sabemos, que razões são palavras, todas nascem da mansa hipocrisia que aprendemos. Não me peçam razões por que se entenda a força da maré que me enche o peito, este estar mal no mundo e nesta lei: Não fiz a lei e o mundo não aceito. Não me peçam razões, ou que as desculpe deste modo de amar e destruir, quando a noite é de mais é que amanhece, a cor de primavera que há de vir” Assim dizia o poeta José Saramago sobre o amor e suas razões inexplicáveis. Então mais um ano se passou... E estamos juntos....
Isa Piedras
Obs.: O titulo é uma inversão do poema ( As sem razões do amor) de Carlos Drummond de Andrade. O nome do poema que transcrevi no final da crônica chama-se: A poesia possível, de José Saramago.