Durante muito tempo em minha vida estudantil, eu sonhei em ser professora de História. A razão do meu fascínio era a plêiade maravilhosa com quem tive o prazer de caminhar desde a “pré-história até a idade contemporânea”: Elizabeth Viana (Beth Bolinha), Joacyr Calmon, Acely, Maria Helena, Maria Oneida e Maria Lúcia Grossi Zunti.

Seus ensinamentos ainda me permitem relembrar algo que me inspirou a crônica de hoje: o quinto! Para você que matou as aulas sobre a “Inconfidência Mineira”, eu tentarei explicar e, desde já, peço perdão às minhas “musas”, inclusive se eu “pisar a bola” historicamente.

Os bandeirantes de São Paulo descobriram ouro em Minas Gerais e acharam que estavam ricos, mas quando a Coroa Portuguesa ficou sabendo desse “babado”, “sentou o pé no traseiro” dos paulistas e resolveu ficar com todas as minas.

Quem iria cuidar de tudo? Ora, foi necessário criar um regimento de “jagunços”, a quem eles chamaram de superintendentes. Sabe o que eles tinham de fazer? Basicamente duas coisas: controlar os escravos que trabalhavam na exploração das minas de Sabará, Vila Rica (Ouro Preto) e São João Del Rei, e organizar a exploração de qualquer jazida que fosse descoberta por homens livres, desde que eles se comprometessem a pagar um quinto do ouro que fosse encontrado. É, isso mesmo: 1/5, ou seja, 20%.

Achando que era pouco, em 1750, o ministro português, Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, adotou uma medida mais drástica ainda: fixou o quinto real em 100 arrobas anuais. Sabe quantos quilos há em uma arroba? 15kg. Dessa forma, o quinto anual passou a ser equivalente a 1.500 kg de ouro!

Como o quinto nunca era pago integralmente e os valores devidos eram acumulativos, ninguém conseguia saldar nada. Em vez de diminuir o quinto para um décimo, por exemplo, a Coroa Portuguesa resolveu inventar o “derrama”, ou seja, fazer o confisco de bens e objetos de ouro dos devedores.

Isso acabou fazendo o povo se revoltar, “botar pra quebrar”, infernizar bem a cabeça dos “portugas” e arquitetar a inconfidência mineira, em 1789. Tá certo que o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se danou e acabou pendurado nos postes, mas...

Antes de continuar a crônica, se você não gazeou, também, as aulas de matemática, diga para mim: o que é maior para se pagar, 1/5 ou ¼? Se você respondeu 1/5 ERROU! 1/5 é a quinta parte, é igual a 20% de qualquer coisa. Já ¼ é a quarta parte, ou seja, 25%.

Há alguns anos eu li que o brasileiro trabalha de janeiro a maio (cerca de cinco meses) apenas para pagar tributos, taxas e contribuições exigidos pelos governos federal, estadual e municipal. Cara, ninguém merece um negócio desses!

Se, pelo menos, nós pudéssemos ser integralmente atendidos nos hospitais públicos, se houvesse educação gratuita e de qualidade para todos, acho que não iríamos chiar. Mas, acontece que a gente sabe que nosso suor sustenta um monte de mordomias das autoridades (e de seus familiares, amigos, correligionários, cachorros, periquitos, papagaios...) dos 03 poderes, e que alguns têm direito a usar “cartão corporativo” para gastar à vontade. Enquanto isso, o povo se lasca e ai de quem não pagar seus impostos!!

Como as qualidades dos serviços de saúde e de educação públicos incitam, quem pode, a contratar planos de saúde e a matricular seus filhos em escolas particulares, e como a questão de malversação do dinheiro público costuma ser verdadeira; eu me lembrei do “quinto”, que é o tema dessa crônica.

Diferentemente do século XVIII, quando o pessoal tinha de doar 20% do que mandava garimpar, hoje, a maioria de nós paga mais do que ¼ de tudo o que ganha, ou seja: 27,5%. Há, ainda, outra diferença: enquanto os donos de minas entregavam o que conseguiam com o suor dos outros, nós temos de pagar mais de 1/4 daquilo que ganhamos com nosso suor.

Atenção, você aí que ainda precisa trabalhar 37 dias (até 31 de maio de 2022) para completar seus 5 meses necessários para ser mordido, oficialmente, pelo “Leão”, e está “p. da vida” por causa disso; será que não está na hora da gente se unir e fazer uma inconfidência nacional, não?

O risco que nós corremos é sermos esquartejados e termos nossos corpos pendurados, como Tiradentes, para darmos exemplos a quem mais ousar pensar e questionar essa questão de impostos, mas.... ruim de tudo, talvez viremos mártires e como tais motivos para outro feriado nacional.

 

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 13/06/2008
Reeditado em 26/04/2022
Código do texto: T1033331
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