Noite dos casais
Nós apenas pretendíamos jantar alguma coisa gostosinha, num lugar calmo, aconchegante e não absurdamente caro. Eu confesso que não sou fã de datas consideradas especiais e, portanto, o dia dos namorados é considerado um dia normal. Às vezes esquecemos que o nosso pensamento não é o mesmo das outras pessoas. Então saímos achando que jantar naquela noite seria algo como jantar numa quinta-feira normal de qualquer semana ou, no máximo, um pouquinho mais movimentada. Doce ilusão.
Ao sairmos da nossa rua tranqüila, onde maior parte dos moradores tem mais de setenta anos de idade e, portanto, nesse momento já estavam bem quentinhos em suas camas, trancafiados em suas casas ou assistindo à novela, nos deparamos com as avenidas muito movimentadas. Já passava das nove horas da noite e, com o frio que fazia, o mais previsível era que as ruas já estivessem mais vazias. Mas não. E as ruas não estavam lotadas somente de carros enfileirados tentando um espaço para passar para a outra pista, estavam lotadas de carros estacionados também.
Logo descobrimos que o motivo pelo qual as avenidas estavam cheias era o mesmo motivo que nos movia até ali, só que com mais intensidade e acompanhado de flores. TODOS os restaurantes e pizzarias que decidimos visitar, e também aqueles que não tínhamos intenção, apresentavam filas quilométricas que se estendiam até as calçadas. Aquelas pessoas talvez estivessem dispostas a esperar horas até conseguir uma mesa livre para jantar. Nós não. Estava frio e era um dia considerado especial pela população em massa, portanto gostaríamos de aproveitar da maneira mais tranqüila possível. Enfim, depois de uma hora rodando por Porto Alegre, decidimos ficar em um lugar que apesar de cheio não apresentava a tal fila. Conseguimos ocupar a única mesa livre que existia e, a partir daí, tudo correu bem.
E o fato que deveria, talvez, fazer-me pensar da mesma forma que aquelas pessoas que toleravam as filas, serviu apenas para me trazer mais aversão à data. Sair de casa numa noite fria de junho, querendo namorar um pouco e jantar tranquilamente e ter que enfrentar filas como se estivesse pagando contas em banco ou disputando o frango de dois reais o quilo no supermercado, ninguém merece.
No próximo ano já imagino a minha linda mesa de jantar preparada para o tal dia. Talvez eu vá para a cozinha fazer alguma comida que meu marido goste muito, talvez eu acenda velas e apague as luzes, talvez eu vista uma lingerie maravilhosa, talvez eu ponha uma música romântica para tocar. Tudo isso vai levar menos tempo do que esperar numa fila para jantar num lugar lotado, sem privacidade, onde pessoas falam alto e a trilha sonora é composta por risadas desconhecidas e burburinhos, barulhos de garrafas, copos e pratos e latinhas de refrigerante sendo abertas.
Tranqüilidade, paz e privacidade no dia dos namorados, não tem preço.