Dar mais do que receber

Vamos falar sobre dar mais do que receber:


Será que vale a pena dar mais do que receber?


Esta é a proposta do Post Comunitário da minha amiga Micha . Todo o povo e os grandes pensadores do nosso grupo de amigos vai escrever sobre isso.


Há alguns dias a Elaíne publicou um texto sobre um caso no qual a pessoa dizia a outra que a prova de seu amor era o tempo que lhe dedicava, pois tempo é dinheiro e, ao se dedicar ao outro, estava perdendo dinheiro. Num perfeito arrazoado nossa cronista concluiu que não era uma prova de amor, mas de desamor, transformar o tempo dedicado ao outro em prova de amor. Se seu salário é muito alto só um pouco do seu tempo será suficiente para demonstrar seu amor; se você ganha pouco nem todo o seu tempo poderá se equiparar àquele pouco tempo que o outro lhe dedicou. Então não pode haver medida de amor e nem de dinheiro quando se fala de dedicação.


Mas por que algumas pessoas acreditam que seus amados não lhes retribuem na mesma medida em que são amados? Creio que a resposta para essa angústia não poderá ser encontrada, nem que dediquemos a ela milhares de posts comunitários.


No meu modesto entender, cada um dá aquilo que tem para dar. Muitas vezes não nos conformamos com o que recebemos, esquecendo que nada mais é do que aquilo que a outra pessoa tem para nos dar. Não significa que ela não nos ame, ou que não tenha mais amor para dar, mas que aquela "é a parte que nos cabe neste latifúndio", ainda que pretendamos um quinhão maior.


Tenho encontrado muitos amigos e amigas que se perdem nessa história de amar e se entregar. Parece que o mal aflige a todos, independentemente de sua condição social, cultural ou emocional. É como uma droga que se instala através do vício no dia-a-dia das pessoas e não pode ser removida sem muito sofrimento. Outro dia no Fantástico mostraram que o amor ativa substâncias no cérebro (só lembro da Dopamina) que agem como num vício mesmo. Então o caso toma nuances de dependência química. Há alguns anos um amigo queria fundar um grupo de ajuda como o AA - Amantes Anônimos, seguindo o exemplo do grupo "Mulheres que Amam Demais", mostrado numa novela (nem lembro qual).


Eu, por mim, acho que você pode e deve amar demais, mas tem que ser como a Micha. Quando vê que a coisa está partindo para o descontrole, cai fora. É melhor receber demais do que dar (no bom sentido).


A Clarinha lembrou da doação fraterna, quando foi voluntária. Essa é a melhor das doações, pois você se entrega sem esperar retorno. A paga é o seu bem-estar espiritual. Se acreditar em Deus saberá que Ele certamente está vendo. Minha esposa trabalha na Ação Social da Pastoral Social. O conforto espiritual e a grandeza de caráter que vejo ali é mesmo reconfortante. Cada 'cliente' atendido é um prêmio muito grande. Vocês precisam ver a alegria estampada nos olhos de quem ganhou um pouco de comida, ou um agasalho. Outro dia um dos assistidos, que está internado numa entidade de recuperação de viciados (no caso dele a dependência é alcoólica) convidou-me para ser seu padrinho, pois vai ser batizado. A emoção do homem quando aceitei foi tão contagiante que também me emocionei. Para ele seria impossível que alguém que lhe dava uns trocados toda vez que estacionava ao lado da igreja - e ele ia correndo beber - pudesse abrir-lhe os braços e ser seu padrinho.


Neste caso, então, vale muito mais dar do que receber. Lembram do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas"? Nele Machado de Assis revela exatamente esse sentimento que enche o coração de quem doa. Numa relação de doação quem recebe esquece facilmente, pois normalmente está satisfazendo uma necessidade básica de seu corpo. O doador, contudo, está satisfazendo a necessidade de seu coração. Na Teoria das Necessidades de Maslow a necessidade de agir com fraternidade está num degrau muito mais elevado que a necessidade manter o próprio corpo, que é básica. Por isso que muitas vezes você surpreende o mesmo pedinte tentando emplacar uma conversa que já lhe contou, mas não lembra, sobre uma passagem para viajar a algum lugar ou coisa assim.


Em tudo, para resumir, vale a pena se doar. Você sempre estará sendo sincero e satisfazendo uma necessidade premente de seu coração. Quem se doa cresce e nunca sai perdendo. No final a pessoa que recebe é que acaba sendo egoísta. Como diz o poeta:


"No final tudo acaba bem!

Se não está bem,

é porque ainda não acabou!"

27/06/2005