RIR DE TUDO É DESESPERO... Berenice Heringer

A Mara Manzan, apesar da cirurgia no pulmão e a quimioterapia, continua com a voz gutural e a risada em gaitada. E os convidados da Regina Volpato, nos Casos de Família, parecem um bando de hospedeiros egressos de uma colônia penal ou da troupe de circo mambembe. Os tipos mais disparatados da fauna humana numa selva estranha. E como são orgulhosos, narcisícos, donos da verdade. O cara é garoto de programa e a mulher é sócia dele, já que cala e consente, e vão lavar roupa suja na TV. A outra tem um filho louro e o pretenso doador de sêmen exige exame de DNA.

Todas as mulheres que lá comparecem vão aos seus cabeleireiros, fazem chapinha e tinturação, têm as unhas pintadas e decoradas, usam saltos 20 e roupas na moda. Alguns estão desempregados ou fazem bicos como faxina e ajudante de pedreiro, taxista, ascensorista, balconista, dona de casa.

Minha sobrinha, que é funcionária do SESI, já teve uma mercearia e um açougue num bairro central/favelão de VV, o tal de Buraco Quente. E sabe contar os costumes e hábitos dos periféricos vaidosos e cheios de pose, que só consomem produtos de marcas famosas como Omo, Nestlé, Sadia, Leite Moça. Carne só de 1ª, lombo e filé mignon. Por isso é que se diz que a classe média no Brasil desapareceu...Foi sufocada e deletada.

Quando a gente fala na sopinha de inhame com bolinhos de ovos com fubá, e bastante cheiro verde, eles torcem o nariz, pois já estão pensando num churrasco na laje, lasanha aquecida no microondas, hamburger e as tortas sadia e perdigão, de que o setor de resfriados do supermercado está abarrotado. Tudo é consumido com litros de coca e cerveja.

Por isso o governo quer que o povão consuma bastante e fale ininterruptamente ao telefone. Na conta há um percentual de 25¨% em ICMS que vai direto para o erário público.

As embalagens descartáveis ficam espalhadas nas ruas e calçadas, os valões estão coalhados de sacolas plásticas e frascos pet. Ninguém solta o telefone móvel e todos têm ou desejam ardentemente uma TV de 42', que não hesitam e financiam em 40 meses no carnê das casas bahia. E a tecpit custa 36 vezes de 39,90 no boleto bancário. Agora eu pergunto: quem precisa de máquina de retrato de última geração, se mora num barraco que pode ser levado pela enchente a qualquer chuvinha mais forte? Eis o povão exigente: quer que o governo dê um jeito no bueiro entupido, controle as chuvas e os ventos, escore o casebre que vai cair, quer remédio de graça e terra para os sem-terra e casas para os sem-teto. Os índios já foram bem adestrados pela pastoral e pelos milicianos do MST e GLSTT et caterva. E eles invadem uma ferrovia da Vale e tudo paralisa. E ninguém é detido e responsabilizado.

Victor Hugo foi um escritor romântico francês que prestigiou o proletariado, que nem existia, pois tal rotulação veio com a revolução bolchevique na Rússia. Pois é, VH, o talentosíssimo de Os Miseráveis, Nossa Senhora de Paris e O Homem que Ri, não anteviu, e nem podia, pois não era profeta nem premonitor, como ia ser dali a alguns anos, uns cento e poucos, a ditadura do povão. Olha que não estou falando de favelas, milícias, traficância e aquela bagunça toda que o Aguinaldo Silva glamurizou em Duas Caras. Estou contando de leve, a pincelada sutil numa tela de Matisse, a sugestão sobre o que domina hoje em todas as frentes. O homem que ri é só o palhaço, que no fundo é um melancólico, e alguns histéricos como o Robaldo Esperman e o sargento do Exército que se chama Laci, faltam cinco notas antes, dó, ré, mi, fá, sol para completar a pauta do dia, o expediente no quartel. O riso sem-graça dele virou um esgar de des-espero/amparo, patético e impotente de um menino que saiu da fileira, quis surrupiar prazer numa guarita desguarnecida e foi apanhado com a mão na botija, as calças na mão e a vergonha que não cabe na cara... VV. 07/06/08

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 13/06/2008
Código do texto: T1032217