Pensando na minha própria morte
Porque será que a morte tornou-se nos dias atuais um tabú? Fala-se sobre o tema de forma genérica, mas, a morte particular de cada um só interessa àquele que está prestes a morrer, daí se coloca o indivíduo moribundo num hospital exiliando-o do convívio dos vivos, para receber assistência de profissionais, remédios e máquinas. No mundo dos vivos só cabem preocupações com o progresso sustentado por projetos cada vez mais audaciosos para que o homem domine a natureza dela extraindo suas riquezas e subjugando-a ao seu controle. Já a morte, que vantagens pode aferir ao homem? Não oferece nada - é fria, desconhecida e incontrolável. Antigamente era comum ver cortejos fúnebres em via pública, onde familiares, conhecidos e curiosos (adultos e crianças) acompanhavam o defunto até sua morada última no cemintério. Hoje, com exceção de algumas pessoas públicas que desfilam em cortejo fúnebre em carros oficiais, o ritual está restrito aos guetos do cemintério acompanhado da familia e alguns amigos, - não de todos os amigos e parentes, pois muitos preferem não participar da despedida derradeira por razões que ocupariam enciclopédias imensas se fossem narradas. Após algumas palavras de despedidas proferidas por voluntários ou religiosos que pouco consolo oferece aqueles que sofrerão a saudade daquele que morreu, todos se vão, retornando ao corre-corre habitual, sem apresentarem transformações pela experiência tida com a despedida de quem morreu. Mas, cá estou eu falando também de forma genérica sobre a morte. E da minha morte, o que tenho a dizer? Nesse instante, quero tornar público minha vontade de não ser exilada do convívio dos familiares e amigos e nem de conversas a respeito de morrer. Seria esse um grande presente próprio para o momento da plena realização de minha existência onde celebrarei meus últimos acordes de vida, sem medo, sem raiva e sem mágoa, junto daqueles que me são caros! - É assim que desejo que sejam os dias que antecederão minha morte, vivendo ciente de que ela pode me acontecer a qualquer momento. Ciente de que sou finita e convidando aos que por acaso vierem a ler estas confusas linhas a pensarem na sua própria morte, tornando-a uma amiga e depois a partilhar suas reflexões para que o tema deixe de ser um tabú e enquanto há tempo para dizer tudo.