A vida em transtornos – alimentar e bipolar
Mais uma vez passando canais na alta madrugada, encontrei algo interessante para assistir, um documentário sobre transtornos psicológicos. Não me é muito fácil escrever sobre isto com seriedade; na verdade, sempre tentei fazer piadinhas leves para amenizar minha situação, por isso talvez eu não consiga expressar tudo o que eu penso e que se passa comigo neste texto. Comecemos pelos alimentares.
A bulimia, apelidada carinhosamente por “mia”, é uma prisão terrível. Não conseguir de maneira alguma deixar o alimento parar no estômago, ter aquele velho e estranho ritual de mesa/banheiro para vomitar qualquer coisa, em qualquer quantidade que ingerida, ainda consegue ser pior que não comer ou ter nojo da comida, como acontece na anorexia – famosa “anna”. Ambas fazem do espelho o pior inimigo e ninguém que não sofra de transtornos alimentares sabe a dor de se olhar no espelho e não conseguir, por exemplo, ver o pescoço porque ele está perdido no meio de quilos de gordura. Logicamente, este transtorno esta ligado diretamente à vaidade, porém, por mais que pareça algo fútil, afinal seguir um padrão de beleza imposto pela sociedade é no mínimo algo supérfluo, mas ainda assim, fere, destrói e acaba com a vida. E pode até parecer fácil se curar, se pondo o olhar de por fora da situação, entretanto, a comida é o monstro da situação e, diferente da realidade, é ela quem pode matar. Eu sou diagnosticado bulimico e anorexo nervoso, no entanto, no meu caso, estes dois não seguem uma constante, é mais um resultado de um outro transtorno que também consegue atrapalhar a vida em absoluto: o transtorno bipolar.
Meu transtorno alimentar se agrava quando estou na fase “menos” do pólo. O transtorno bipolar de humor é uma gangorra, essa é a metáfora mais adequada para defini-lo. A vida oscila entre uma euforia insuportável e uma depressão altamente profunda; não há equilíbrio, não há trégua, não há paz. E assim, ora mais, ora menos. Porém o pior mesmo são os sentimentos interligados aos extremos: quando o “menos” está no comando as vontades somem, os prazeres desaparecem e a vontade de viver também, como conseqüência; quando é a vez do “mais” de reger a orquestra da vida, por vezes é até agradável, afinal, se sentir o mais bonito, popular, legal e inteligente, de vez em quando faz bem, se não fosse pela intensidade como se é sentido. Sim, sem esquecer de toda a falta de paciência e irritação que se emana. A vida de um bipolar é sempre muito clara ou muito escura – e vale ressaltar a importância da palavra “muito” nesta definição. Eu tenho transtorno bipolar e faço terapia para tentar encontrar um equilíbrio; terapia e remédios prescritos por psiquiatras.
É, é complicado tocar a vida sendo refém destes transtornos, principalmente quando a maior parte de sua família pensa que tudo não passa de frescura ou de tentativas de chamar atenção, contudo, poderia ser pior; ao menos o famoso TOC não faz parte da minha pequena coleção. Do transtorno obsessivo compulsivo eu passo longe, embora... Ei, espera um pouco! Eu não consigo assistir televisão se o volume do canal estiver em um número ímpar! Deixa pra lá, melhor não tocar nesse assunto.