João, um santo festeiro?
1. Até onde se sabe, não.
2. Gostos de escrever sobre a noite de São João. E mais ainda sobre a figura do Precursor, o homenageado nessa estrepitosa festa junina.
3. Ontem, eu fui a um batizado. Durante a solenidade, apesar do choro desesperado e intermitente do batizando, eu só me lembrava de João, o Batizador.
3. O menino Lucas mal completara dez meses de vida e já comparecia à pia batismal. Não devia ter gostado da pitada de sal que o entusiasmado presbítero lhe pusera na boquinha; e muito menos de receber, na moleira, a água lustral; benta, mas muito fria.
4. Enquanto os pais e padrinhos se diluíam em largos e eloquentes sorrisos, Lucas esperneava e parecia xingar o padre, o coroinha e a parentela presente ao seu batizado.
5. Ele pagava o preço alto para, afinal, ganhar um lugarzinho no seio da Igreja Católica, tornando-se cristão.
6. Mas, com certeza, não estava entendendo bulhufas daquela demorada e solene liturgia. Se, naquele instante, lhe perguntassem alguma coisa, acho que ele diria: - "Por favor, me deixem pagão. Por que tanta pressa? Não estão vocês lembrados de que o Nazareno, só rapazinho, foi batizado?"
7. Eu perguntava, no início desta página, se João Batista fora um santo festeiro. Adiantando que, até onde se sabe, não; não fora um santo festeiro.
8. Nem o respeitado escritor profano Flàvio Josefo - que nasceu por volta de 37 d.C. e morreu em 102 ou 103 d.C., em Roma - nem os santos evangelistas mostraram-no como um camarada que adorava a fuzarca e era vidrado em fogos-de-vista, em balões e rojões.
9. Visitei os escritos do médico Lucas e verifiquei que em nenhum momento o autor do Terceiro Evangelho diz ter flagrado João Batista soltando foguetes ou dançando quadrilhas. Até onde me foi dado pesquisar, também os Apócrifos não mostram o Batista como um fogueteiro ou um forrozeiro.
10. Me lembro, que Artur Azevedo, num de seus poemas, referindo-se a João Batista, escreveu: "... ao que julgo,/ Foi santo melancólico, e, no entanto,/ Passa aos olhos do vulgo/ Pelo mais brincalhão do calendário."
11. Um santo melancólico. Carmem Segranfredo e A.S.Franchini, no excelente livro intitulado As 100 Melhores História da Bíblia, permite que a gente, de repente, descubra a melancolia de João.
12. A certa altura, observam que João "provavelmente órfão desde muito cedo, devido à idade avançada dos pais, vivia solitariamente no deserto da Judéia, entre Jerusalém e o Mar Morto".
13. E eu, por conta própria, acrescento: melancólico e intransigente na defesa de suas convicções religiosas.Todos conhecemos o episódio de sua decapitação.Tudo porque criticou, condenou, publicamente, o comportamento do poderoso Herodes Antipas, que insistia no seu amor ilícito com Herodíades, sua cunhada.
14. Por outro lado, como admiti-lo ligado a barulhentos festejos quando se sabe que ele escolheu o deserto como morada. E deserto é sinônimo de solidão, de afastamento, de recolhimento profundo.
15. Verdade é que continuo sem entender por que tantos fogos e tanta música para festejar o nascimento do bem-comportado primo do Messias.
16. Prometo prosseguir buscando uma explicação para o aranzel que toma conta das noites do enrustido (estóico?) filho de Zacarias e Isabel. Quem souber de alguma coisa a esse respeito, me avise. Tá?
1. Até onde se sabe, não.
2. Gostos de escrever sobre a noite de São João. E mais ainda sobre a figura do Precursor, o homenageado nessa estrepitosa festa junina.
3. Ontem, eu fui a um batizado. Durante a solenidade, apesar do choro desesperado e intermitente do batizando, eu só me lembrava de João, o Batizador.
3. O menino Lucas mal completara dez meses de vida e já comparecia à pia batismal. Não devia ter gostado da pitada de sal que o entusiasmado presbítero lhe pusera na boquinha; e muito menos de receber, na moleira, a água lustral; benta, mas muito fria.
4. Enquanto os pais e padrinhos se diluíam em largos e eloquentes sorrisos, Lucas esperneava e parecia xingar o padre, o coroinha e a parentela presente ao seu batizado.
5. Ele pagava o preço alto para, afinal, ganhar um lugarzinho no seio da Igreja Católica, tornando-se cristão.
6. Mas, com certeza, não estava entendendo bulhufas daquela demorada e solene liturgia. Se, naquele instante, lhe perguntassem alguma coisa, acho que ele diria: - "Por favor, me deixem pagão. Por que tanta pressa? Não estão vocês lembrados de que o Nazareno, só rapazinho, foi batizado?"
7. Eu perguntava, no início desta página, se João Batista fora um santo festeiro. Adiantando que, até onde se sabe, não; não fora um santo festeiro.
8. Nem o respeitado escritor profano Flàvio Josefo - que nasceu por volta de 37 d.C. e morreu em 102 ou 103 d.C., em Roma - nem os santos evangelistas mostraram-no como um camarada que adorava a fuzarca e era vidrado em fogos-de-vista, em balões e rojões.
9. Visitei os escritos do médico Lucas e verifiquei que em nenhum momento o autor do Terceiro Evangelho diz ter flagrado João Batista soltando foguetes ou dançando quadrilhas. Até onde me foi dado pesquisar, também os Apócrifos não mostram o Batista como um fogueteiro ou um forrozeiro.
10. Me lembro, que Artur Azevedo, num de seus poemas, referindo-se a João Batista, escreveu: "... ao que julgo,/ Foi santo melancólico, e, no entanto,/ Passa aos olhos do vulgo/ Pelo mais brincalhão do calendário."
11. Um santo melancólico. Carmem Segranfredo e A.S.Franchini, no excelente livro intitulado As 100 Melhores História da Bíblia, permite que a gente, de repente, descubra a melancolia de João.
12. A certa altura, observam que João "provavelmente órfão desde muito cedo, devido à idade avançada dos pais, vivia solitariamente no deserto da Judéia, entre Jerusalém e o Mar Morto".
13. E eu, por conta própria, acrescento: melancólico e intransigente na defesa de suas convicções religiosas.Todos conhecemos o episódio de sua decapitação.Tudo porque criticou, condenou, publicamente, o comportamento do poderoso Herodes Antipas, que insistia no seu amor ilícito com Herodíades, sua cunhada.
14. Por outro lado, como admiti-lo ligado a barulhentos festejos quando se sabe que ele escolheu o deserto como morada. E deserto é sinônimo de solidão, de afastamento, de recolhimento profundo.
15. Verdade é que continuo sem entender por que tantos fogos e tanta música para festejar o nascimento do bem-comportado primo do Messias.
16. Prometo prosseguir buscando uma explicação para o aranzel que toma conta das noites do enrustido (estóico?) filho de Zacarias e Isabel. Quem souber de alguma coisa a esse respeito, me avise. Tá?