SÍNDROME DO PÂNICO NA TV - Berenice Heringer

(Quem muito abaixa a bunda aparece...)

O exibicionismo, o voyeurismo e o fetichismo continuam sendo perversões, mesmo que o DMS IV tenha eliminado o homossexualismo do rol de doenças e práticas perversas.

Versão já é mudança. Agora vejam bem: há um listão com muitos prefixos e sufixos anexados ao vocábulo verso. Verso é o lado de trás da frente. Pode ser também o dentro com seu antônimo fora. Verso e anverso. Cara e Coroa. Reversão, reverso, inversão, perversão, um baralho todo embaralhado, o de baixo e o de cima, o de trás vem pra frente. Agora vejo que a célebre posição 69, que os casais de 40 anos atrás conseguiram chegar lá, depois de vencer a barreira do medo, do puritanismo e da ignorância, e ultrapassar, parece hoje um desenho animado sem censura para as 10h da manhã. Porque a barra pesada mesmo é a prática de sexo oral entre dois homens.

Depois dos novos decretos do Ministro José Gomes Temporão e do Presidente Lula, que eles comemoram como um avanço e chegam até a empunhar e fazer tremular uma bandeirola multicolorida, é espúria e complexamente uma aberração.

Será que aqueles dez mil (ou 50 mil?) da Polêmica Gay da Plaza de Mayo em São Paulo são todos candidatos e vão ficar na fila de espera do SUS? Esta vai ser a maior Inflação de todos os tempos. Talvez possa ser uma réplica da queda do muro de Berlim em 1989. Não com tanto glamour, claro.

Porque, como já escrevi noutras linhas, o grande prazer desfrutado entre eles é a respiração boca-a-boca, invertidas. Vou repassar aqui uns lances dum caso clínico do paciente por seu psicanalista, num livro científico. O sicrano presta o serviço a uma legião, coloca literalmente a boca no trombone. Realiza tais proezas em filas de soldados em quartéis, policiais em delegacias, se houver um jeitinho, no pátio da penitenciária masculina na hora do banho de sol, borracheiros e mecânicos de oficinas, trabalhadores braçais em canaviais, garimpeiros.

O fulano em questão nunca levou avante uma posição usual, sempre prestando o serviço sem exigir nada em troca. Nunca fez o que os caras do Pânico na TV chamam de mudar de posição. Agora vejam bem os exibicionistas sargentos do Exército que cairam, semana passada, na armadilha armada por eles mesmos. Capa da Época, entrevista no SuperPop, conversa vai, conversa vem, os dois se achando os novos descobridores do caminho marítimo para as Indias. Ou melhor, piratas numa caravela de Colombo, só na marujada. Quase saíram do estúdio da TV algemados. Só não aconteceu porque houve muita negociação, chamaram um psicoterapeuta de renome para dar uma mãozinha.

E honra seja feita, o comandante do Exército foi de uma habilidade ímpar num caso tão esdrúxulo. Quase foram direto para o xilindró. Mas um dos caras estava tendo uma crise de Pânico na TV. Parece ser bipolar. Independente de diagnóstico psiquiático, o Laci está lascado. Literalmente na tábua da beirada. O cara chorou feito um bebê chorão.

E baixou direto no hospital da base. Isto é o que se chama de dar um tiro no pé. Mas ele está incurso no delito de deserção, previsto no código da corporação e que ele deve saber de cor.

E aquela cena no programa da Luciana Gimenez, as camisetas camufladas, os bonés, as falas, vai antecipar um futuro negro: sem emprego, sem salário, sem quartel, sem soldo.

Eles se fixaram numa tela em off, soldados na cela do exibicionismo.

Vila Velha, 06 de junho de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 12/06/2008
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