BURRO COMO UM ASNO. ALEGRE COMO UM JUMENTO. - Berenice Heringer

É assim que um rapaz da academia de musculação me pareceu quando disse que almeja a volta de Sodoma e Gomorra. Já está tudo instalado aí mesmo, ao vivo e a cores, em tempo real na rede internacional, nas festas Rave e Trance. Woodstock é como se fora a lembrança de um piquenique no parque com as criancinhas de um jardim da infância. Isto só quatro décadas depois. Aí eu disse: e o enxofre escaldante, as lavas ferventes, a maldição do Senhor, as estátuas de sal? O moço disse que valia a pena a revivescência que o Marquês de Sade enalteceu e registrou em sua obra. Junto com Só-Morra viriam a torre de babel, os jardins suspensos da babilônia, Nabucodonosor e o nabo...

A nostalgia do mermão não tem cabimento. Já está tudo instalado e a pleno vapor, som máximo, telões, MP 3 e 4, câmeras tecpix, Ipod, pen drive, on line, alta nitidez e total periculosidade. Gente! Só estou registrando. Não sou a favor nem contra. Muito pelo contrário.

Perto do que se tem visto na TV, não em filmes ou novelas, mas nos noticiários durante as 24 h do dia, a fita com a históia do marquês francês é uma obra de arte e não pornografia, como se pensa. È erotismo fino e sutil. Há também aquele clássico japonês, O Império dos Sentidos, que vi há muitos anos. Gostaria de rever. É delicado e trágico como só a Arte do Sol Nascente pode ser. No final, o personagem se mutila, corta o bilau. Um samurai praticando haraquiri com o golpe da espada um pouco mais abaixo do que o baixo-ventre.

Não há como relatarmos os fatos atuais sem nos estribarmos nas obras dos mestres, os escritores, filósofos, pesquisadores, psiquiatras e Sigmund Freud, naturalmente, o rei de todos eles, médico e neurologista, pioneiro perscrutador dos meandros escondidos do Ser, lá onde as motivações e compulsões abedecem a um senhor tirano. Basta o pressionar de uma tecla que dispara um monitor. SF em seus últimos estudos e escritos científicos/psicanalíticos tratou de Além do Princípio de Prazer, uma das suas mais avassaladoras e contundentes conclusões sobre o comportamento humano. Além do Prazer está a Morte. O máximo de TUDO é o FIM e a aniquilação. Não pode existir prazer ininterrupto nem infindável, assim como não há nada que permaneça para sempre. Depois do movimento vem a inércia.

O ponto de repouso interrompe bruscamente a alta velocidade. Vejam Airton Senna e outros.

A pulsão de morte é a vitória de Tanatos sobre Eros. O prazer é sufocado pela dor e sobrevém o aniquilamento. Há mesmo, em cada ser, a busca do fim, finalmente a PAZ, a cessação de toda a angústia do não saber, o desconhecimento do vir-a-ser...

Quando não se vislumbra a finalidade, tudo é sem sentido. Porque não há um fim em si mesmo em nenhuma atividade humana. O objetivo é o alvo, que já deve estar desenhado. Só então disparamos a seta da ação. Qual será então o fim pretenso com a desenfreada, contínua e ilimitada atividade sexual, nas orgias, surubas, sessões de sado-masoquismo, tortura auto e hetero infligidas? O sensual pode descambar rápido para o ritual satânico, com armas, destruição, o sabat pode se encompridar no Ano Sabático.

Os romanos, ávidos buscadores do prazer desenfreado, comiam e vomitavam e voltavam a comer mais nas festas que eles chamavam de Ágape. Dos salões era possível sair-se para um pátio onde havia canais de água corrente. Àgua que lava e leva qualquer coisa, ou Tudo.

Foi assim que os habitantes de Pompéia pereceram, nos primórdios da era cristã, soterrados pelas lavas do Vesúvio. Comendo, bebendo vinho e praticando sexo, tudo constatado pelas escavações arqueológicas. As cinzas vulcânicas conservaram a cena intacta.

Outro detalhe: tudo que é praticado abertamente, com grande platéia, perde o mistério, o encanto e a

Beleza.

Vila Velha, 06 de junho de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 12/06/2008
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