A VIOLA E O VIOLEIRO
Nenhum instrumento encontra maior aconchego junto ao instrumentista quanto a viola. Nem mesmo o violão, que é maior e não cabe tão bem dentro de um abraço.
A simbiose é tamanha que, abstração feita do sentido poético, a viola e o violeiro formam o casal perfeito. Não brigam. Ele a acaricia e ela vibra até a última corda. Ele canta e ela o acompanha. Estão sempre juntos, em todas as rodas. Ela não é ciumenta, embora ele o seja.
Quando ele canta uma toada ela chora. Um xote? Nada melhor para fazê-la quase dançar. Basta um pagode para que ela se alegre e anime o ambiente. O triângulo amoroso perfeito? Um violeiro, sua amada e sua viola.
Uma moda caipira, ao som da viola, nos remete a paisagens bucólicas. Chega-se a sentir o cheiro da terra, o vento do campo na face, e a ouvir o mugido do gado ao longe. A emoção aflora à pele. A melodia nos embala a alma.
Há quem diga que ninguém ama como o violeiro. Nenhuma paixão é tão doce, nem tão inocente. Nenhuma amizade é tão grande. Nenhuma morte tão triste. Nenhum rancor tão forte. Nenhuma vingança tão extrema.
O din-din-dar das cordas da viola faz pensar que só pode ter sido inventada por um santo, pois, é qualquer coisa de angelical ouvir viola.
(Escrito em 2002 como texto de abertura dos shows da Orquestra Viola Iluminada, a qual foi fundada e coordenada pelo autor até outubro de 2006, que hoje segue carreira musical solo)