NA BEIRADA DA TÁBUA

Na crônica anterior falei da decepação. Nesta, falo de ablação. E das fé-minus, aquelas de pouca fé no seu bule e que estão querendo dar uma geral nos penduricalhos. Os encalhes no ribeirão arrudas. Os empecilhos nos valões e correntezas. Outra vez, ré-correntemente, estão querendo tirar a sela da mula e a canga do boi. Eles até que ficam livres dos antolhos e entraves, mais soltos, mas não libertos da condição. Continuam sendo muar e bovino.

Vamos lidar com essência imutável e vestimentas descartáveis. Quem está preparado, efetivamente? Já vimos aí os casos desesperados, as tentativas, algumas frustradas, de reversão de vasectomia e desamarração de trompas de Falópio.

E esses pênis, testículos, peitos, úteros e ovários? Estas retiradas estratégicas não têm volta. Irreversibilidade. A vida é muito curta para ser pequena. (Disraeli, escritor inglês).

No Brasil bate-se recorde todo dia em porcaria. Esgoto a céu aberto, contaminação da água, violência urbana, tortura, homicídio, seqüestro relâmpago, roubo de cargas, abuso infantil.

Agora, com o aval do Ministério da Saúde, a sanção do Presidente da República, a adesão do SUS, a conivência dos cirurgiões, começou a nova Queda das Muralhas de Jericó e a corrida para mais uma inclusão no Guiness Book.

E essas fêmeas, em cujo registro de nascimento consta o gênero que Simone de Beauvoir chamou de O Segndo Sexo e Germaine Greer de A Mulher Eunuco, estão querendo o quê? Já fumam, bebem, se drogam, traficam e andam na contramão, viram mulher-melão, alugam seus úteros, carregam cocaina no estômago e celulares na vagina. Agora apareceu a carioca-doida que diz morar na Escócia e está no livro de recordes com seus 5.900 piercings.

Esse é um time, talvez o Timão, com seu companheiro Pumba! E a pomba? Em algumas é uma pacata juriti ou a inocente rola que andou, andou, caiu no laço e se embaraçou...E quer abrir a porta da gaiola e liberar geral.

A mulher moderna é muito boba e fraca para virar uma Amazona de lendas e mitologias. Cabeça cheia de caraminholas procurando príncipe e achando sapos, querendo ser tida e mantida por algum Benhê! tipo Belo, o traficante, que enganou a Vive-Nua com a Rock-Graciano. A situação da mulher moderna é crítica, uma bêbada no meio da ponte, igual o meninozinho indeciso que diz: não sei se vou ou se fico; não sei se fico ou se vou. Indo eu sei que não fico, ficando eu sei que não vou...Agora está, algumas delas estão, acho que é uma minoria, querendo ficar lisa igual uma tábua de passar, que o namorado leva pra surfar, eviscerando ovários, trompas, útero. Será que vai colocar um canudinho alí, uma biquinha para fazer xixi em pé como os travecos? E depois se entupir de hormônios andro-herma-testosterônicos. Já pensou o ônus, as despesas com manutençao, aquisição de remédios, dificuldade para conseguir trabalho remunerado depois de perder o anterior. Como a pessoa se ilude achando que angústia existencial, falta de auto-estima, depressão, as neuras vão sumir com ablação, cortes, remendos no corpo físico? O outro, ex-sargento do exército em Juiz de Fora, diz que está feliz e realizado...E o pomo-de-adão? Dizem que nos homens é um pedaço de maçã do pomar-do-paraíso que Eva fez Adão comer. Ele se engasgou para sempre. Cabelo, barba e bigode, como a Rebeca Gusmão?

Isto é o que podemos chamar de verdadeira idolatria. Mas é só um arremedo, pois o ídolo tem pés de barro. É sim, uma idiolatria, a veneração de si mesmo num espelho arrevesado que inverte a imagem. O espéculo, o reflexo especular, a fenda e a fresta veladas, depois escancaradas, novamente fechadas como naqueles contos de terror do emparedamento de seres vivos em grutas de tortura A imagem no espelho vira um abominável espetáculo... Vila Velha, 06 de junho de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 11/06/2008
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