NÃO SE ESQUEÇA DE NÃO IR À BIBLIOTECA

A professora verificou que os trabalhos dos alunos eram cópias baixadas da internet e impressas. O plágio acaba de ser instituido oficialmente e parece que não há nada a fazer.

A adolescente, em frente ao computador, disse que odeia ler e não sabe escrever. Não sei o que os professores e outros educadores vão fazer daqui pra frente. Eu acho que em uma década estarão todos analfabetos de pai, mãe e vizinho, ainda que peritos em catar milho no teclado do computador e acessar o orkut e outras drogas. Quem apostou alto na tal de inclusão digital vai cair do galho. Sou suspeita para falar. Sou fanática por estudo, leitura, escrita, bibliófila maníaca, dicionarista compulsiva. Mas é claro que não vou levantar bandeiras, carregar cartazes, fazer comícios em prol do estudo, da educação e da busca do saber. Acho que, como no ditado popular, quem pariu Mateus é que o embale.

Agora é que vamos ver, na prática, o tal de livre arbítrio. Decidir sozinho é uma escolha ética. Mas arrastar cúmplices, arregimentar asseclas, convocar adesões numa decisão pessoal é, no mínimo, uma pretensão narcísica de dizer "faça o que eu faço". A sociedade, as instituições família, escola, igreja vão ser obrigadas a pagar a conta. Não se concedeu a liberdade ampla, total e irrestrita? Foram dados os instrumentos, a condição, a hora e a vez.

O Libertas quae sera tamen veio antes do Independência ou Morte, exatamente 30 anos separam os dois brados retumbantes, um em Vila Rica, outro às margens do Ipiranga.

É só revisitar a história e refrescar a memória. Tiradentes virou herói e mártir por achar injusto o quinto do ouro exigido por El Rey . D Pedro I é criticado, não sei por qual motivo. A maioridade da liberdade foi reivindicada antes mesmo da capacitação para se obter a independência.

Aquele que não anda com as próprias pernas não pode ser convocado a escolher o roteiro e encetar a caminhada. O que é disciplina? É usar a inteligência a serviço da ação.

A educação é cumulativa. É um trabalho das gerações anteriores para guiar (ou tentar) as atuais e vindouras. Freud afirmou que educar é uma tarefa impossível. Não é difícil nem trabalhosa, mas inviável, pois o método educativo embasa-se na proibição, em restrições, disciplina, ordenamento. Vai interferir diretamente na busca do prazer, adiar a satisfação, se possível de ser alcançada e na eliminação ou poda da pretensão no caso de inviabilidade, não contar com recompensas e aprender a lidar com a frustração. Basicamente a perda de chances, deixar para depois o que se quer hoje sofregamente, treinar para desistir.

Os ordenamentos jurídicos, a norma social, as sanções familiares e das demais instituições são vistas pelos jovens como um cerceamento à plenitude da vida, ao gozo do prazer desfrutável a todo custo. O sexo, o mais desejável, é quase impossível de ser refreado...

Como o processo educativo é feito de dentro para fora e não de fora para dentro, sabemos que o incentivo não desperta necessariamente a motivação, sempre fica um resto, uma equação complexa, direta e inversamente proporcional ao mesmo tempo, uma inviabilidade.

Nos cursos de Didática, Magistério, Metodologia do Ensino e Pedagogia há toda uma complexidade teórica desafiando para ser efetivada. A teoria sem a prática é inócua. Mas a práxis desordenada e sem método nós dá esse quadro caótico e sombrio que vemos por aí, cada qual de nariz empinado, mas que não se acha responsável pelos próprios erros.

Quem transgride no mínimo pode ultrapassar o ponto de fusão.

As ilusões são como cogumelos: inflam rápido e murcham depressa.

Vila Velha, 02 de junho de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 11/06/2008
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