SERÁ QUE SOU TÃO CHATO ASSIM ?

 

    O que mais queria naquele domingo era me esparramar no sofá da sala depois de uma maravilhosa macarronada regada a muito molho de tomate, pimentão e com três latinhas de cerveja para acompanhar. Pretendia tirar um bom cochilo até a hora do futebol na TV. Meu time estaria decidindo o campeonato e tudo indicava que seriamos campeões.

    Uma das melhores coisas que os domingos nos proporcionam, sem dúvida alguma é aquela cochilada depois do almoço. A casa em silêncio, uma musiquinha leve e não há dúvida de que naquele tempinho que você relaxa todas as mazelas, preocupações e os aborrecimentos da semana desaparecem como por encanto.

   Acontece que nem todos pensam assim. Quando já estava quase pegando no sono, a patroa entra na sala e dá uma ligeira cutucada no meu ombro. Humildemente se desculpa por ter me acordado mas pede, por favor, que eu dê um pulinho até a padaria para comprar um pouco de fermento, uma vez que ela precisava fazer um bolo para o lanche da tarde.

    Sugeri que o bolo de fubá poderia ser substituído pelos biscoitos água e sal da dieta mas ela não concordou. Fez inicialmente uma cara de desapontada, parou uns segundos para colocar em ordem os pensamentos e insistiu (insistir para ela significava dar uma ordem uma vez só) para que eu fosse à padaria.

    Não tinha outro jeito e como a padaria não ficava muito longe, resolvi atender seu pedido, até para que não fosse incomodado novamente. Exatamente vinte e cinco minutos depois entreguei a ela o fermento e quando me preparava para voltar para o sofá, o telefone tocou.

    Era minha filha, pedindo uma rápida carona para que pudesse ir a costureira pegar um vestido que mandara fazer. Perguntei se não poderíamos ir no dia seguinte e ela respondeu-me que isso era impossível, pois tinha que ir a uma festinha justamente naquela noite.

     Dei uma olhada rápida no relógio e constatei que ainda dava tempo de ir, voltar e assistir ao futebol. Perderia parte do cochilo mas paciência, ficaria para outra vez ou quem sabe, poderíamos voltar rápido para casa. Com certeza meu sofá estaria me esperando no mesmo lugar.

    Deixei minha filha na porta da casa da costureira e confesso que não me surpreendi quando ela me pediu para esperar. Calculei que a espera seria curta e se ficasse no carro, daria para cochilar um pouco.

     Assim que fechei os olhos um garoto bateu no vidro do carro. Perguntei se ele queria alguma coisa. Ele simplesmente me pediu para sair daquele local para que os garotos pudessem jogar bola. Respirei fundo, pensei duas vezes e como também já tinha jogado muita bola na rua resolvi atender e deslizei o carro alguns metros para frente.

    Quando pensei que poderia cochilar tranqüilamente o garoto outra vez me incomoda , pedindo para eu chegar o carro um pouco mais para frente. Resmungando entre dentes resolvi atender.

     Não posso calcular quanto tempo exatamente eu cochilei (deve ter sido por pouquíssimos minutos). Só sei que acordei com o som de novas batidas no vidro e desta vez era minha filha. Finalmente poderia voltar para casa.

    Como disse, eu ”poderia” só que antes teria que passar de novo na padaria para comprar pãezinhos de sal. Minha filha estava com vontade de comer pães de sal e pronto, não tinha bolo de fubá que fizesse ela mudar de idéia.

    Finalmente consegui chegar até meu sofá querido e agarrado a duas almofadas, jurei a mim mesmo que não permitiria que nada perturbasse meu cochilo. Por algum tempo nada perturbou mesmo.

    No melhor do sono fui despertado com nova cutucada. Era minha mulher pedindo ajuda para trocar o bujão de gás. Quando perguntei porque não tinha pedido ajuda a minha filha, a surpreendente resposta foi de que ela, minha filhinha querida , tinha ido a manicure mais cedo e não poderia correr o risco de quebrar uma das unhas (são pequenas coisinhas de mulher).

    Devo ter rosnado alguma coisa entre dentes mas me levantei, ajudei a trocar o gás e voltei para o sofá. Estava seriamente preocupado em não perder o sono.

   Mesmo com a cara fechada consegui adormecer. Só que minha cara de poucos amigos não conseguiu assustar minha filha que novamente me cutucou , me acordou e me pediu nova carona.

    Levantei-me com um berro perguntando às duas, patroa e filha, quando elas me deixariam tirar um cochilo sossegado. Em protesto ambas me recriminaram e como se estivessem me dando um duplo puxão de orelhas pediram para que eu deixasse de ser chato.

    No carro, na volta pra casa, abrindo e fechando a boca várias vezes e atrasado para assistir ao futebol, vim pensando......” Será que sou tão chato assim ? .....”

 

                   **************

 

(Quase ia me esquecendo. Naquele mesmo domingo minha neta me intimou a assistir clips do Michael Jackson e da Kelly Key ao lado dela. Depois, dizem que eu é que sou o chato...)




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 11/06/2008
Reeditado em 22/01/2013
Código do texto: T1028755
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.