Capital e Trabalho

“Por que os pobres não compreendem

apenas deixam de ser pobres? (Pablo Neruda)”

Nos primórdios, com o advento da coleta o homem começou a criar uma nova forma de organização. Teve início uma relação de sobrevivência em que o homem sai em busca de caça e atribui à mulher o cuidado com os filhos. Nasce daí uma nova relação baseada no excedente e que possibilita ao homem sustentar a dominação. Foi desta forma, construindo um novo sistema que evoluiu e se estendeu por todas as dimensões do ser humano, ou seja, na cultura, trabalho, saúde, escola e etc. Surgiu aí o patriarcado, a dominação de gênero, raça, religião e povos.

Na relação propriamente dita de capital e trabalho não foi diferente, a relação foi evoluindo, mas sempre com base na dominação pelo poder do excedente (capital) – acumulo de bens (dinheiro, terras, armas e etc). Hoje, em praticamente todas as nossas relações o capital se faz presente. O capital tem uma grande facilidade de adaptação, cooptação e aniquilamento de qualquer tentativa de subverter a ordem pré-estabelecida.

Vemos que hoje é senso comum altamente propagado e estudado nas escolas a Gestão Estratégica das Relações de Trabalho (RH). É mais uma prova da elasticidade do capital em conhecer todas as dimensões do trabalhador, estender seus tentáculos até sua alma, senão vejamos: somos tomados pelo sentimento de que somos parte de uma empresa, sócios e parceiros; somos levados a participar com sugestões, idéias e inclusive premiados pelas idéias. Todas as dimensões humanas são estudadas e exploradas para que nossa produção seja sempre melhor e maior. A competição estimulada dentro de uma faixa de risco delimitada e “aceita”. O capital consegue desta forma, ter uma visão global de todo o sistema de dominação não permitindo ultrapassar os limites estabelecidos.

O sindicalismo é um instrumento importante em alguns momentos para manter o trabalhador dentro deste limite, agindo como válvula de escape dos conflitos, ou seja, salário x condição de trabalho x salário x condição de trabalho, sempre o mesmo ciclo. Principalmente para manter o pensamento lógico capitalista, sem chances para uma nova lógica.

A relação de trabalho versus capital, seja ela regulamentada pelo estado ou flexível não altera a dominação. Quando um trabalhador chega ao poder ele carrega na alma à lógica (símbolo) capitalista, bastando despertar alguns símbolos para formatar um “primoroso” capitalista.

Por dentro do arquétipo capitalista não será possível erguer uma nova realidade, pois somos incluídos para a exclusão... São necessárias as indagações: para onde estamos caminhando e para onde queremos caminhar? Somos o centro do universo ou parte? A instituição dá resposta as nossas inquietudes e indagações?

Não busco respostas prontas. Devemos construir desconstruindo o patriarcal/capitalismo de forma pedagógica. Partir de um movimento que concretamente se realize fora das garras do capital. Sustentado em valores humanos de humildade, simplicidade e cuidante, pois, somos sujeitos e parte do meio em que vivemos. É necessário e urgente refletirmos com base em uma economia solidária, em uma educação aberta e transparente, em energias renováveis necessárias para nos manter, garantindo a continuidade e a permanência, passando pela aceitação de que nós humanos somos dispensáveis ao planeta. Em uma relação de observação e comunhão com nossa Mãe Terra, pois dela teremos com certeza todos os frutos necessários para nossa sobrevivência e passagem. Cultivar a vida com amor incondicional e reencontro com nós mesmo; nossa essência primordial esquecida. Assim, construiremos o novo, um amanhã hoje. Do capital desfeito à vida erguida!