...FAZ SOL, MAS O DIA LÁ FORA ESTÁ BEM FRIO...
Quando acordei do fim de semana, o silêncio era tão alto que a dor era insuportável. O vazio que mesmo oco pesa mais que o mundo sobre as costas. O descaso das sonoridades das palavras com a vida, o nada dizer, a má companhia, o jornalista que envergonha a profissão aceitando ordens que enriquecem sua vidinha repleta de prêmios. Podem me chamar de chato, isso ainda seria o melhor desse dia inexistente que seria muito bem representado por aqueles quadrados em branco das folhinhas de calendário. O pai que não quer ouvir o que a menininha de no máximo oito anos queria perguntar, a boca silenciosa da pessoa que tenta falar comigo do outro lado da avenida enquanto centenas de carros ignoram que o mundo ao redor deles estava sedento de diálogos, o bom dia sem resposta que fica ecoando dentro do cérebro até que alguém o ofende de todas as formas por um leve esbarrão. Eu tento fazer uma ligação no celular e uma voz robótica pede para que deixe uma mensagem após o sinal, deixei que o silêncio se manifestasse por segundos, me recusei a falar com o aparelho que a solidão não era tão forte assim, e as mensagens deixadas na secretária eletrônica são destruídas por um simples toque após serem libertadas. O dizer por dizer, a voz que encanta apenas porque é bonita, a linguagem das mãos que é compreendida por poucos, e eu faminto devorando gestos, canções, breves conversas travadas pelas calçadas com desconhecidos e outras manifestações públicas que por momentos eram interessantes. Hoje, mais do que nunca, senti falta do tempo de menino em que junto com os colegas fazíamos algazarra pela casa sem a preocupação do dia terminar sem ser abençoado com um pingo de alegria. Haverão melhores dias, a certeza está nos olhos de vocês que mesmo ausentes sempre oferecem a melhor das companhias.
"...black hole sun
won't you come
and wash away the rain..." SOUNDGARDEN