Eu Sou Jovem
Sim, eu sou jovem.
Exigente, envolvido e envolvente. Acordo apressado, lembrando que preciso trocar o toque para o dia seguinte. Musica perecível? Talvez. Mas sei que tenho muito a falar e ouvir. Aliás, ouço de tudo, gosto de parte e recomendo o que realmente chama a atenção. O tempo é curto. O tempo precisa de filtros. Olha só, já perdi mais alguns segundos dele, tentando explicar minha falta de timing.
Cansei de ficar, vou procurar alguém pra namorar hoje. Fácil assim! Não tenho tipo preferido, dependo da conversa, dependo do momento, dependo dos primeiros caracteres de um final divertido. Mas não pense que sou tão dependente assim. Lidero a fila para distribuir conteúdo, agilizar novidades, arremessar atitude e conjugar verdades descontraídas quando o assunto é paixão. Quer saber... talvez só fique com alguém hoje.
Ainda preciso checar meus e-mails, ler meus scraps, “não-aceitar” testemunhos secretos, atualizar meu blog, dizer “oiee” pra quem estiver online, enviar torpedos pro meu grupo de cinema, acessar posts amigos, comprar uma camiseta em um site gringo e enviar um e-mail para um guitarrista que assisti ontem – não o conheço, mas preciso muito saber a seqüência de acordes da terceira música. Bom, em cinco minutinhos termino tudo isso. Tempo de sobra.
Ainda tenho aula hoje. Mas nada parecido com aquela parede humana inerte de antigamente, montada em ouvintes passivos, todos estranhamente diagramados em mapas de classe, disfarçando chicletes proibidos. Agora, minha argumentação caminha firme, ousada e sem duplo sentido. Mas uma coisa é certa: a tempestade de informações que distribuo em faíscas não me obriga o apoio vitalício. Mudar faz parte, sim, e eu estou sempre no clima. Não tenho que concordar. Concorda?
Difícil dizer o que vou fazer amanhã. Coisa demais. Talvez ensaiar um futuro promissor, repleto de lições que só se aprendem na marra. Ou gritar em alto tom que estava completamente enganada em 1% das minhas decisões e 99% satisfeita com a coragem que tive nas outras – fossem estas acertadas ou não. Quem sabe entupir uma mochila com poucas roupas e muitos sonhos e comprar tickets geograficamente aleatórios, torcendo para que os amores de verão cauterizem qualquer frieza. Posso até mesmo aprender a sentir saudade em diferentes idiomas, esperando ser compreendida com um abraço qualquer, dos braços de alguém.
E não fico só nisso. A construção deste mapa que mostra meu futuro envolve atalhos sedutores. Caminhos que se diferenciam por coincidência, mas que deságuam em destinos milimetricamente acertados. Pontes bambas que respiram nuvens em precipício, sem olhar para baixo. Ar comprimido em suaves pulmões de celofane.
Se tudo isso vale a pena? Claro que sim.
Afinal, eu sou jovem.