Foi tão lindo

“Só posso crer num deus que saiba dançar.” Nietzsche

Sábado (07/06/2008) fui convidado para ir num forró. Nada mais nordestino que o forró não é? E aceitei. Aceitei por um motivo, era um forró da 3ª Idade. Agora imaginem que beleza, um monte de velhos sorrindo ao som da sanfona, senhores e senhoras abraçadinhos, dois para lá e dois para cá. Nossa, que coisa gostosa. E as avós com seus netos, os pequenos de mãos dadas dançando e pulando. Isso que é vida.

Mas alguém apareceu na minha frente, uma jovem religiosa (só podia, quem mais detesta a alegria que eles?) meu deu um abraço, perguntou se eu estava bem (ela queria saber se eu estava com Deus) e me disse: - Festa chata, esses velhos ficam assim dançando, deveriam estar orando. Então não me contive e falei: Para que orar se eles estão felizes, devem é celebrar a vida, poderiam estar agora num asilo, num hospital, mas estão aqui, dançando, sorrindo, sendo jovens novamente. E completei : - Festejar também é uma forma de oração.

Mas eu tava tão encantado com a festa, que nem dei muita corda à conversa, logo tratei de desviar meus olhos dela, aquela jovem – que estava feia pela sua tristeza – e tratei de olhar uma velhinha, de uns 76 anos que dançava sozinha no salão, dando gargalhadas ao som do Luiz Gonzaga.

Fiquei a me perguntar: - Qual a razão do comentário daquela jovem? Acho que ela achou que os velhos estavam loucos, dançar é coisa de jovem. Mas não achei que foi isso, pois se o forró fosse gospel ela aprovaria. Foi quando me lembrei do Karl Marx dizendo que “religião é ópio do povo”, drogado eles não vêem a beleza fora da droga, o mundo só faz sentido se estiver sob o efeito do ópio, quem não usa a droga é careta. Pior, para o religioso, quem não usa a sua droga é quem está drogado.

Mas depois eu resolvi olhar para essa jovem, sentada pouco ao meu lado, e olhei os pés dela, que batiam no chão, no ritmo daquele arrasta-pé gostoso, e cheguei a conclusão: Como ela tem inveja desses velhos …

A vida seria um saco se não fossem as festas, elas existem para tornar as pessoas mais sociais, e numa festa todos são amigos, há festas que são um culto (claro que há festas que são orgias, dessa a gente não fala) à vida, ao ser humano, à amizade…

Mas tudo bem, aqueles velhos com seus netos e filhos foram dormir em paz, certo de que a vida vale a pena ser vivida até o ultimo suspiro, quanto à jovem, deve ter ido orar, com medo de perder a vida como prova do castigo de Deus…

Wagner Martins
Enviado por Wagner Martins em 09/06/2008
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