É ignorancia ignorar
Hoje no meio do expediente,
Resolvi andar pelas calçadas,
Cabeça erguida, olhos infinitamente perdidos,
Ignorando e sendo ignorada,
Os carros que passam,
Pessoas que vão vem,
Sinto só o vento que movimentam,
As ignoro, não as conheço,
Sinto apenas cheiros, uma única vez,
Não sei dos seus problemas,
Não lhe contos os meus,
Não temos tempo.
Ignora-me o rapaz no celular,
Ri intensamente, mais não dividi.
O motivo do riso comigo.
Fico séria então,
Não lhe dou atenção.
Continuo minha caminhada,
Vejo então que em meio à multidão,
Estou só, ninguém me ouvirá,
Ninguém dará importação as minhas lamurias,
Ninguém me aconselha, ninguém me diz nada
Ignoro o psiu,
Ignoro o olhar,
Que diz que me viu, e na próxima esquina,
Não mais se lembrará.
É ignorância ignorar?
Vejo lábios que se movimentam,
Ao longe as palavras não consigo distinguir,
Movimentos lentos, que meus ouvidos não captam,
Não dou importância as suas lamurias,
Sinto as minhas.
Volto pra realidade,
Mexo nos meus arquivos, perdidos,
Como os meus olhos na estrada,
E vejo que só ignoro
Por que sou ignorada,
Qualquer dia passarei
Nesta mesma calçada,
Acenando, dizendo:
Bom dia! Boa tarde!
Como vai o senhor?
Maria Alice e as crianças?
Poucos responderão
A maioria estaram como estive a primeira
Vez que passei por esta calçada,
Tão bronca, tão ignorante.
Que fui ignorada
ANNA LIMA