MARCANDO TERRITÓRIO...

Hoje, bem cedinho, resolvi me dar um presente.

Por aqui, ainda é agradável andar pelas ruas sob o dia nascendo ainda com poucos poluentes, então, decidi que faria um cooper antes de qualquer outra atividade.

E assim que botei meus pés na rua, ele apareceu.

Já relatei um fato semelhante por aqui, e dessa vez aconteceu novamente. Parece até sina. Minha ou deles! Quiçá...nossa!

Parecia um cãozinho perdido,talvez desgarrado do dono, pois sua coleira estava arrebentada.

Inqueri o vigilante da rua.Disse-me que apareceu por aqui há três dias, depois de abandonado pelo provável dono.

Achei um absurdo abandonar um cãozinho na rua a sua sorte, mas nada que chocasse tanto as opiniões frente a tantas crianças que também o são por aí...

E alí começou a nossa história...

Seguiu-me por exatamente uma hora. E de tudo aconteceu. Parecia até a mimetização da vida de qualquer um de nós num micro cosmos do tempo...

Às vezes eu parava cansada...e ele também, e embora sempre um pouquinho a minha frente, descansava a me esperar.

Numa das esquinas encontramos tres donas passeando com seus cachorrinhos.

-É seu?-uma delas me perguntou.

-Não, está só me acompanhando...

-Procura por um dono!-outra delas concluiu.

Percebi que seus cães o avistaram de longe...e prepararam -lhe as boas vindas...se cheiraram, e ele continuou a me guardar...todos em absoluto e respeitoso silêncio. Uma digna recepção!

Logo mais na outra esquina, o destino esquentou.

Dois cachorros já titulares do pedaço, com casa, endereço e tudo mais, também ao avistá-lo de longe, prepararam a investida cruel.

Em altos brados e latidos, avançaram-no e praticamente o expulsaram da calçada.

Senti que fugiu assustado buscando proteção em mim.

Procurei acalmá-lo.

Voltamos a caminhar, e quando achava que ele iria seguir o seu rumo, voltava a me acompanhar, passo a passo.

Parecia com fome, e uma das sua patas estava machucada.

No chegado momento, preparei-me para a despedida.

Abri o portão de ferro, e ele displiscentemente foi entrando. Parecia já familiarizado, aclimatado à amizade.

Foi quando delicadamente encostei o portão que levemente tocou o seu focinho, deixando-o do lado de fora.

Senti o peito doer, ao pedir-lhe desculpas por não poder ampará-lo.

Apenas me olhava com a cabeça ancorada por entre a grade, de antemão sentindo que a nossa caminhada terminava ali.

Entrei para o hall do edifício e com os olhos nos despedimos com dor.

Fiquei a espiá-lo por um tempo, e ele sem mais me ver, ainda esperou uns minutinhos por mim.

Engoli seco, e ali atiçei o pensamento.

Nesse mundo, todos compartilhamos da compaixão, da violência egoísta...e da solidão.

Nós e os bichos...donos do mesmo destino.

O de simplesmente caminhar no desconhecido território de cada esquina do tempo.

Nota do autor: Minha vida atual não me permitiria adotá-lo.