Aventuras Estudantis

Ela passou no vestibular com apenas dezesseis anos de idade. Tinha uma boa cabeça, mas nenhuma vivência. A mãe, superprotetora, ia buscá-la na parada com algum dos irmãos ou o pai, à noite, depois da aula.

Até o final do primeiro ano, a faculdade ficava perto de casa, um trajeto curto de ônibus. Depois, mudou para bem mais longe, no novo campus. Como ela já havia feito várias amizades, entrou num grupo para rachar a gasolina. O dono do carro era ninguém menos do que o Fernando, irmão do Alex Dias Ribeiro, que correu na fórmula I na década de setenta. Fernando chegou a correr na F3, mas na época da faculdade, havia parado. Hoje, ele disputa a Fórmula Russell Americana, onde já conquistou alguns títulos. Fernando dirigia muito bem e, apesar do sangue de corredor, era muito responsável e nunca ultrapassava os limites das vias.

Este trajeto da faculdade até o plano piloto testemunhou muitas aventuras. Colegas vinham fazendo bagunça, pequenos pegas. Um deles, o Kola, conseguiu encaixar o carro em cima do guard rail de uma das curvas do caminho. Sem capotar, nem nada: bateu no meio fio e quicou, caindo sobre a cerquinha metálica, duas rodas para cada lado. Além da velocidade e outras imprudências, eles faziam molecagens como andar dois ou três, lado a lado, devagarinho, para impedir os outros de passarem. Às vezes, abriam as portas dos carros para ocupar todo o espaço da pista.

Numa dessas ocasiões, o espírito de piloto aflorou e o Fernando esgueirou-se entre o Baixinho e o Cabelo, antes que estes conseguissem formar a barreira. Os oois seguiram atrás e logo os alcançaram, já que, assim que passou por eles, Fernando reduziu a velocidade novamente para 80 km por hora, limite no eixão. O Baixinho os ultrapassou e o Cabelo, num fusquinha, emparelhou. Como seguiam num XR 3, que era um carrão à época, Cabelo brincava na direção de seu carro, jogando o corpo para frente, como se isso fosse fazê-lo ir mais depressa, num peguinha imaginário. Estavam todos entretidos com essa brincadeira, quando a luz de freio do Baixinho iluminou o interior do carro. Ele, poucos metros à frente, travou com toda a força. O Fernando só teve tempo de enfiar-se novamente entre os dois, na diagonal e escapulir da batida como que por um milagre. Não é a toa que ele e o irmão se dizem atletas de Cristo. Acho que Nosso Senhor puxou, pessoalmente, o pé do Cabelo do acelerador, para obrigá-lo a reduzir a velocidade e abrir a brecha por onde o Escort passou.

Seguiram o resto do caminho eufóricos, comentando como haviam escapado por pouco, graças à perícia do amigo piloto. Ela entrou em casa com a adrenalina ainda em alta, nem contou nada aos pais. Quando estava preparando um lanche, o telefone toca. Era o Fernando:

- Oi, estou ligando para me desculpar...

- Hein!?

- Eu fui um irresponsável com vocês, quero que me desculpe.

- Hein!?

- Eu não devia ter entrado na brincadeira dos meninos, a gente poderia ter se machucado.

- ...

- Você me desculpa?

- Não!!! Nunca!!! Mas, nunquinha mesmo!!! Você acaba de me proporcionar a maior aventura da minha vida, tava aqui me sentindo a maior bad girl!! Você estragou tudo!!

Em seguida, caiu na gargalhada. Ele demorou uns segundos para entender, estava mesmo arrependido. Depois acabou achando graça também.

Não sei dizer se foi apenas por acaso: hoje ela é casada com o Kola...

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 09/06/2008
Reeditado em 09/06/2008
Código do texto: T1026152
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