ESPIANDO O INFINITO

Era uma noite, como outra qualquer, quando espiei o infinito.

Eram 23h55min, quando fui para a cama, fiz minhas preces, agradeci ao Todo pelo tudo que eu tinha e olhei para a minha companheira que estava deitada ao meu lado.

No vai e vem da segunda respiração, justamente quando achei que a falta de sono me tocara, fui lançado para fora de mim. Estava dentro e fora, de tal maneira que observava o mundo e, ao mesmo tempo,

sentia meu corpo em profundo relaxamento na cama. Não tive medo, pois já experimentara isso tudo antes, porém, dessa vez, era mais que perfeito; todas as sensações vinham ao mesmo tempo, de forma equilibrada, e eu podia sentir essa familiaridade, tão comum como quando você encontra, depois de muito tempo, um amigo do peito.

Minha consciência não tinha forma, apenas me fazia presente e atravessava paredes e árvores; concreto e céu. Como se observasse à velha São Paulo da janela de um trem, via seus prédios passando por mim, como se o cenário estivesse em movimento, e não eu.

Vi pessoas, na calada da noite, ainda indo para casa e notei os animais noturnos que saem de suas tocas e enchem a noite de sons e vida. Num vôo de sonhos, que era mais real que a última lembrança que tinha. Percebi que jamais conseguiria explicar essa experiência sem parecer loucura ou imaginação.

Tão rápido quanto fui, voltei; e abri os olhos assustado, por me dar conta que não mais que dois minutos haviam se passado, enquanto eu jurava que estava fora por horas.

Eram 23h57min, quando tentei falar e explicar o ocorrido para a minha

companheira, que me olhava confusa, mas não consegui. Não tinha palavras e, sem conseguir me expressar, vi luzes explodindo na minha testa. Eram como fogos de artifício numa festa-surpresa de virada de ano, em que eu era o único convidado.

Fiquei quieto, observando aquele show de cores, tentei ao máximo não deixar a mente atrapalhar com perguntas, pois o importante era o que eu experimentava e não entender a razão pela qual sentia aquilo. E, justamente quando comecei a sorrir, curtindo o espetáculo como se fosse criança, é que vi o infinito.

Percebi o toque gentil do vento nos meus ouvidos, como se quisesse me contar algo; tentando ouvir, escutei algo que só posso descrever como canto do infinito.

Choviam estrelas na minha cama, quando segurei a eternidade em minhas mãos. Mexi os dedos e toquei a própria manifestação. Era como se tudo fosse maleável; como se tudo pudesse ser moldado para a nossa própria satisfação.

Ouvi conversas, descobri segredos, tive insights que dariam mil livros, ou ainda, milhares de canções. Sabia que não conseguiria assimilar tudo aquilo; e desejei ardentemente guardar tudo o que sentia no meu coração. Era como se eu sonhasse que achara um baú cheio de ouro e soubesse que não conseguiria levá-lo comigo (no despertar, o sonho viraria areia escorrendo pelas mãos).

Não sabia o que ocorreria em seguida e isso era fantástico; foi então que percebi que, todas as vezes em que nos deixamos levar pela vida, sem nos preocuparmos com o que há escondido na próxima esquina, tudo vira festa, cada passo se torna uma conquista. Cada experiência, um presente; cada pessoa, uma vida a ser descoberta e vivida.

O infinito não é o espaço sem fim, nem muito menos o alcance do brilho das estrelas; o infinito se reflete no olhar do vizinho, do amigo, do filho; no meu caso, nos olhos da pessoa que mais amava.

Era 23h58min, quando percebi os olhos mais cintilantes que já vi. Não eram estrelas, era apenas o olhar de minha parceira de jornada, que, em silêncio, observava as idas e vindas do companheiro, nessas viagens para o infinito, que começam e terminam dentro de um olhar.

São Paulo, 19 de fevereiro de 2008.

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