A Próxima Dança
Sexta-feira é sempre uma promessa. Diversão, descanso ou mesmo ficar à toa. Bem, na última sexta, nós fomos à farra. Festejar a vida, celebrar a amizade e a alegria do convívio. Confesso que nem estava no pique para festas, mas fui assim mesmo. E fui por diversas razões sendo a principal delas, porque estava feliz, muito feliz e dançar sempre foi uma forma de celebrar meus momentos de felicidade.
E lá fomos nós, todas em estado de plena euforia e com alegria de sobra para fazer daquela uma noite muito especial, como de fato foi. O clube estava lotado. A música, com arranjos especiais remasterizados pelo segundo melhor DJ do mundo, levava a galera ao delírio. Estava tudo simplesmente perfeito. De repente, uma mão boba, que de boba não tinha nada se enrosca em minha cintura, meio que tentando me acompanhar no embalo da dança. Com um olhar de quem não percebe nada, dou mais uma rodadinha e depois de alguns saltos no meio da pista de dança, propositadamente me perco do ilustre desconhecido. Essa é a magia da dança, os passos que nos aproximam dos que desejamos são também os mesmos nos afastam dos indesejáveis. E entre risos, gostosas gargalhadas e algumas paquerinhas básicas fomos levando a nossa noite que, diga-se de passagem, prometia ser maravilhosamente longa. Entre os olhares perdidos e os que se encontram, percebo que eu não era a única a tentar me livrar das tais “mãos bobas”. Aí vem aquela mania de querer analisar o mundo contemporâneo em plena festa. Tento afastar o pensamento que por sua vez, persiste em me perturbar, me mostrando ora o incômodo sentido pelas meninas e ora a sensação de poder e controle da situação, advinda do joguinho de charme que nós, ditas sexo frágil, insistimos em sairmos vencedoras. Entretanto, o meu objeto em foco, não era o jogo de sedução em si, mas a fina linha que estabelece o limite entre o público e o privado nas relações, sejam elas de nível pessoal, profissional ou simplesmente social.
No clube, era como se nada nem ninguém pertencesse a ninguém. O corpo, ora vira objeto de contemplação, ora objeto de busca por um prazer momentâneo proporcionado pelo toque, pelas mãos, pelos amassos camuflados pelo jogo de luzes. No âmbito profissional, temos a estranha mania de responsabilizar algo ou alguém pelas nossas faltas, ou nossa incapacidade de concluir determinado projeto. "Não deu tempo, estava com dor de cabeça, sem inspiração, ou o fulano de tal não me repassou os dados necessários", etc e tal. Expressamos publicamente nossas frustrações individuais, transferindo o peso da responsabilidade de carregá-las, para a esfera pública. As comunidades virtuais são um exemplo claro disso. Surgidas inicialmente com o propósito de aglomerar indivíduos com afinidades semelhantes, sejam por um determinado objeto de estudo, assunto ou simplesmente como ponto de encontro que possibilite a descoberta dessas afinidades, elas têm sofrido as mesmas tensões das sociedades contemporâneas do mundo real. Nos aproximamos de uma determinada comunidade porque, na maioria das vezes, estamos cansados do individualismo reinante nas sociedades modernas e de repente, nos deparamos com um jogo de espetacularização da vida privada, transformando o espaço que deveria ser constituído enquanto rede de solidariedade e afinidade, em arena de disputas pelo poder, esquecendo-se que o convívio diário, seja ele na esfera real ou cibernética, exige a obediência a códigos de conduta e civilidade. Assim, as mesmas “mãos bobas” que fingem não ter conhecimento da linha divisória entre o corpo que dança e o indivíduo que existe ali, possuidor de alma e coração, sentimento e racionalidade, são também as mesmas mãos que dão lugar à língua que fere, que mente e que camufla verdades. Na pista, o corpo dança, sua visibilidade é pública, mas seu usufruto é privado, é individual e há que se respeitar esse limite. Na vida social, o indivíduo que se expõe, publicando algo ou mesmo observando, é o mesmo indivíduo que ama, que se deixa amar ou ferir, de acordo com a origem da flexa.
Urge, pois que se estabeleça uma diferença entre o que é de interesse privado e o que venha a ser de interesse e relevância social e coletiva. É necessário que se tenha sensibilidade para não avançar o sinal, quando for momento de reduzir a velocidade para que não sejam abertas feridas difíceis de cicatrizar e para que nossas relações, ainda que virtuais não sejam atingidas pelas “mãos bobas” que insistem em invadir o espaço privado. Mas estejamos de coração aberto, para o toque das mãos que trazem carinho, que afagam a alma e o coração. Estejamos de mente aberta para as mãos que massageiam as nossas mentes e que nos possibilitam pensar, refletir e sonhar. Que nossas mãos sejam as mãos que conduzirão nossos amigos pelos caminhos da solidariedade e amor ao próximo; que sejam mãos que estabeleçam confiança, compromisso, cumplicidade, respeito acima de tudo; que sejam mãos que aplaudam as vitórias, mas que também sejam fortes para ajudar-nos a levantar nas quedas. Aí sim, que sejam essas as mãos as quais entregaremos nosso corpo ao bailar da vida. E quem sabe a próxima dança não será a nossa!
Sexta-feira é sempre uma promessa. Diversão, descanso ou mesmo ficar à toa. Bem, na última sexta, nós fomos à farra. Festejar a vida, celebrar a amizade e a alegria do convívio. Confesso que nem estava no pique para festas, mas fui assim mesmo. E fui por diversas razões sendo a principal delas, porque estava feliz, muito feliz e dançar sempre foi uma forma de celebrar meus momentos de felicidade.
E lá fomos nós, todas em estado de plena euforia e com alegria de sobra para fazer daquela uma noite muito especial, como de fato foi. O clube estava lotado. A música, com arranjos especiais remasterizados pelo segundo melhor DJ do mundo, levava a galera ao delírio. Estava tudo simplesmente perfeito. De repente, uma mão boba, que de boba não tinha nada se enrosca em minha cintura, meio que tentando me acompanhar no embalo da dança. Com um olhar de quem não percebe nada, dou mais uma rodadinha e depois de alguns saltos no meio da pista de dança, propositadamente me perco do ilustre desconhecido. Essa é a magia da dança, os passos que nos aproximam dos que desejamos são também os mesmos nos afastam dos indesejáveis. E entre risos, gostosas gargalhadas e algumas paquerinhas básicas fomos levando a nossa noite que, diga-se de passagem, prometia ser maravilhosamente longa. Entre os olhares perdidos e os que se encontram, percebo que eu não era a única a tentar me livrar das tais “mãos bobas”. Aí vem aquela mania de querer analisar o mundo contemporâneo em plena festa. Tento afastar o pensamento que por sua vez, persiste em me perturbar, me mostrando ora o incômodo sentido pelas meninas e ora a sensação de poder e controle da situação, advinda do joguinho de charme que nós, ditas sexo frágil, insistimos em sairmos vencedoras. Entretanto, o meu objeto em foco, não era o jogo de sedução em si, mas a fina linha que estabelece o limite entre o público e o privado nas relações, sejam elas de nível pessoal, profissional ou simplesmente social.
No clube, era como se nada nem ninguém pertencesse a ninguém. O corpo, ora vira objeto de contemplação, ora objeto de busca por um prazer momentâneo proporcionado pelo toque, pelas mãos, pelos amassos camuflados pelo jogo de luzes. No âmbito profissional, temos a estranha mania de responsabilizar algo ou alguém pelas nossas faltas, ou nossa incapacidade de concluir determinado projeto. "Não deu tempo, estava com dor de cabeça, sem inspiração, ou o fulano de tal não me repassou os dados necessários", etc e tal. Expressamos publicamente nossas frustrações individuais, transferindo o peso da responsabilidade de carregá-las, para a esfera pública. As comunidades virtuais são um exemplo claro disso. Surgidas inicialmente com o propósito de aglomerar indivíduos com afinidades semelhantes, sejam por um determinado objeto de estudo, assunto ou simplesmente como ponto de encontro que possibilite a descoberta dessas afinidades, elas têm sofrido as mesmas tensões das sociedades contemporâneas do mundo real. Nos aproximamos de uma determinada comunidade porque, na maioria das vezes, estamos cansados do individualismo reinante nas sociedades modernas e de repente, nos deparamos com um jogo de espetacularização da vida privada, transformando o espaço que deveria ser constituído enquanto rede de solidariedade e afinidade, em arena de disputas pelo poder, esquecendo-se que o convívio diário, seja ele na esfera real ou cibernética, exige a obediência a códigos de conduta e civilidade. Assim, as mesmas “mãos bobas” que fingem não ter conhecimento da linha divisória entre o corpo que dança e o indivíduo que existe ali, possuidor de alma e coração, sentimento e racionalidade, são também as mesmas mãos que dão lugar à língua que fere, que mente e que camufla verdades. Na pista, o corpo dança, sua visibilidade é pública, mas seu usufruto é privado, é individual e há que se respeitar esse limite. Na vida social, o indivíduo que se expõe, publicando algo ou mesmo observando, é o mesmo indivíduo que ama, que se deixa amar ou ferir, de acordo com a origem da flexa.
Urge, pois que se estabeleça uma diferença entre o que é de interesse privado e o que venha a ser de interesse e relevância social e coletiva. É necessário que se tenha sensibilidade para não avançar o sinal, quando for momento de reduzir a velocidade para que não sejam abertas feridas difíceis de cicatrizar e para que nossas relações, ainda que virtuais não sejam atingidas pelas “mãos bobas” que insistem em invadir o espaço privado. Mas estejamos de coração aberto, para o toque das mãos que trazem carinho, que afagam a alma e o coração. Estejamos de mente aberta para as mãos que massageiam as nossas mentes e que nos possibilitam pensar, refletir e sonhar. Que nossas mãos sejam as mãos que conduzirão nossos amigos pelos caminhos da solidariedade e amor ao próximo; que sejam mãos que estabeleçam confiança, compromisso, cumplicidade, respeito acima de tudo; que sejam mãos que aplaudam as vitórias, mas que também sejam fortes para ajudar-nos a levantar nas quedas. Aí sim, que sejam essas as mãos as quais entregaremos nosso corpo ao bailar da vida. E quem sabe a próxima dança não será a nossa!