Nostalgia de Um Dia Qualquer
Entra no metrô. Senta-se na última cadeira, onde na janela ao seu lado passam massas querendo entrar no gigante de ferro.
Ouve o sinal de partida e se acomoda, com o violão no meio das pernas.
A velocidade aumenta, e alcança o limite até reduzir aos poucos chegando na outra estação. Em seguida, pára um metrô em paralelo. Ele se distrai olhando pela janela, até ver os olhos azuis que procurava há muito. Estava distraída também. Pensava na vida, talvez.
Na sua frente, uma criança de uns sete anos. Ao lado, uma moça de óculos escuros e de pé um rapaz, que aparentava seus quinze.
E nada disso fazia importância.
Como um abismo de pensamentos, fixava mais e mais o olhar. E ela -provavelmente- pensava na vida. Ouviu, pela segunda vez no mesmo dia, o sinal de partida. Enfim, olha. E olha tão fixamente quanto ele. (O verde e o azul se confundiam, e nada mais se observava, tirando o pouco de reflexo que a menina da frente fazia.)
E no monstro paralelo, quase entrando em movimento. Era notável a inquietação das pessoas. Mas não ela. Ela continuava olhando. -E porque me olhas?- (Porque sou humana, porque preciso de alguém, porque tenho medo de cair dentro de você e me perder. O azul para mim é mar, é imensidão, é amor. E paro de olhar quando conseguir voar, quando emergir de dentro do nosso amor. O verde me espanta e me fascina como os incríveis desencontros da vida, como as incríveis sensações da vida.)
O trem parte, algumas estações passam e ele não soube porque ela olhava. Foi para casa, -provavelmente- pensando na vida. Terça-Feira, de um mês indiferente. Dia de estudar História.