Ilusão
Ilusão
Propositalmente olhei para o chão, firmei minha vista e comecei a acompanhar o vai e vem desordenado daqueles milhares de pequenas criaturas. Por mais que fixasse os olhos, eu não conseguia ver o que carregavam, seguiam em fila, as criaturas estavam praticamente grudadas umas nas outras, não havia espaço.
Ainda que eu não tivesse certeza, classifiquei todas as criaturinhas como pertencentes à espécie operária, eu estava curioso para saber o que carregavam: guloseimas ou estavam levando veneno para suas habitações? Para quem carregavam? Para a rainha ou para uso próprio? Havia soldados também à beira da trilha, apenas fiscalizavam.
As minhas retinas fotografam uma grande aglomeração que apesar do tamanho aparenta fragilidade. Poderia jurar que seria fácil esmagar tudo aquilo com os pés, ou até mesmo com uma das mãos. Insolitamente me imaginei como um deus, um anjo mau com poder de decidir a vida e a morte. Talvez eu conseguisse soprar bem forte, formar um tufão e ver tudo ir pelos ares, seria divertido – pensei.
Descolo meu rosto da janela, estou no trigésimo quarto andar, na torre do Banespa, de lá, ao longe enxergo a multidão caminhando pela rua, não passa de formiguinhas, eu ainda sorrio. Volto à realidade, me dou conta de que são almas, são pessoas, são trabalhadores atrás de produtos baratos, tudo o que o suado e raro dinheiro pode comprar, até falsificações mal feitas; bolsas Luiz Vitão e mp4 da Soni. Opa! Sony sem y? Nada disso importa. É uma festa, é gente na rua, é a pouca alegria que sobra no final do mês. Não são formigas, é o povo! Não são criaturinhas, são pessoas! São brancos e negros, judeus e árabes, católicos e ateus se acotovelando, lá não é Nova York, Bagdá, Cabul ou a Faixa da Gaza, é a Rua 25 de Março.