UMA HISTÓRIA DO FLEURY

Conheci o Fleury em 1952, quando ele veio morar no Rio de Janeiro e ingressou como aluno no Colégio Militar. Desde então nos tornamos amigos.

Tinha uma particularidade: gostava de uma pessoa de cara ou de cara, detestava; não havia meios-termos. Era um temperamental, briguento, porém com um coração imenso e sempre correndo em auxílio dos que dele necessitassem, como aconteceu comigo: ele me ajudou e muito, em certo momento da minha vida.

Gostava de cavalos e, portanto, escolheu a Arma de Cavalaria.

Com a escolha, diariamente, dirigindo-se para a equitação, ele passava pela frente das baias, sempre atento em dar boa distância daquela ocupada por um cavalo que tinha a manha de morder quem passasse perto.

Naquele dia, o Fleury se distraiu e caminhou rente à baia e o cavalo, se não tivesse errado a mordida, teria lhe arrancado a orelha.

Refeito do susto, ele não deixou dúvida de que homens e animais se entendem, basta querer e surgir a oportunidade, porque puxou firme o animal para si e aplicou uma forte mordida, arrancando pelos do seu pescoço para em seguida, desferir dois socos bem dados entre os olhos do animal que louco de dor, escoiceou para todos os lados.

Daí por diante, o cavalo se escondia no fundo da baia, ao pressentir que o Fleury se aproximava.

Meu amigo Fleury me deixou lembranças. Deixou saudades!

Faleceu em 16 de outubro de 1998.

Não fui ao enterro.

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Obs.: este texto está registrado na Biblioteca Nacional.

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 08/06/2008
Reeditado em 19/06/2008
Código do texto: T1025538
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