Cartas de Amor

Perguntem a todos os meus amigos e amores da época de escola. Todos eles vão afirmar que já receberam cartas minhas e, talvez, até tenham alguma delas guardada. Eram papéis repletos de sentimentos e carinhos. E alguns continham tristezas também e, se bobear, alguma lágrima que caiu em cima por descuido.

Eram cartas elaboradas. Tinham formatos diferentes, cores e desenhos, adesivos e colagens. Algumas continham até anexos. Outras continham vazios. Algumas me trouxeram bons momentos, bons resultados e outras fizeram com que eu me arrependesse de mandar.

Anos depois eu ficava sabendo de amigos e namorados que tinham essas preciosidades guardadas e que costumavam reler. Aqueles que realmente retribuíam o meu amor sabiam a importância de cada papelzinho daqueles. Eles sabiam que eu expressava melhor os meus sentimentos através da escrita. Um EU TE AMO tinha mais valor escrito do que falado.

Mas as minhas cartas também me fizeram passar por situações estranhas. Dois anos depois de ter perdido contato com um dos meus namorados (o mais importante, diga-se de passagem), bate à minha porta a então namorada dele (e mãe da primeira filha, que era bebê ainda) com os braços transbordando de cartas minhas! Disse-me que estava ali para devolvê-las. Eu não sabia se ria ou se chorava. Expliquei a ela que eu nem tinha notícias dele e que não via sentido naquilo (inclusive eu já tinha outro namorado), mas peguei as minhas preciosidades antes que ela jogasse no primeiro latão de lixo. Reli cada uma delas no meu quarto, relembrei, chorei e rasguei tudo com certo pesar. Depois disso já tive contato com ele algumas vezes e já falamos sobre tudo isso e mais um pouco.

Mas essa é só uma amostra do que uma carta carregada de amor pode causar. Cartas são documentos, são provas, são armas e são flechas (de cupido ou não). A linguagem escrita se mantém, ela marca, ela imprime, ela tatua. O peso de um texto escrito não chega aos pés de um texto falado, pois o primeiro retorna e se explica.

Algumas cartas minhas devem estar por aí. Talvez alguém que nem me conheça tenha a oportunidade de ler e consiga sentir o valor que tem. Hoje, as minhas escritas estão por aqui, mas com uma marca bem diferente. De qualquer forma, ainda são repletas de amor.

Raquel Corrêa
Enviado por Raquel Corrêa em 08/06/2008
Reeditado em 08/06/2008
Código do texto: T1025535
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