Sou Verão
Cansei de ser outono ! amanheci verão, passei pelo inverno nem vi o colorido da primavera a enfeitar minha janela, perdi o aroma das flores, omiti o canto do colibri, meus olhos desviaram-se do brilho do setembro ensolarado, remexi meu baú em busca de identidade, rasguei a bandeira preta que ofuscava meu amanhecer .
Enterrei no limbo as dores de tanta busca, na lua prateada vejo o tear dos sonhos delineados presentes, confirmando altaneiro a chegada do horizonte, pintando de verde a aquarela da esperança .
Minha alma faceira multiplica-se na certeza do novo amanhecer, promete silenciosa nunca mais vai perder uma estação. Não dormirei ao relento da névoa para acordar com o capim molhado provocando desatinos, receberei os raios de sol clareando minhas manhãs, viverei cada estação ao seu tempo, que o céu de ontem encante meu amanhã.
Não mais serei outono, nem roubarei das minhas emoções as manhas de primavera.
Sou verão meu sangue pulsa, arde sente o fogo de ser poeta, não pertencer a nem um sexo, não ser tribo, romper as paredes coaguladas com o vicio de falar de amor.
Sou toda verão meus lábios esboçam sorriso mal feito de desejos sepulcros com mordaças de um ranço onde não havia libertação .
Sou inverno, primavera, verão, não quero ser outono onde o cinza ofusca o desejo infindo do meu olhar palpitante buscando quem sabe o infinito de outras culturas.
No calor deste verão vi romper as cores extravagantes do purpura melancólico dissipando a solidão das tardes vagas na mais legitima contramão do acaso silencioso anunciando o gozo, o brilho a paz o consolo e quem sabe o equilíbrio para descompor novamente ao romper da próxima estação.
Aida M. Domingos