Criança vem com cada uma!...
A menina de cinco anos está à mesa tomando devagar sua sopa de letrinhas. A mãe estende no varal da área de serviço algumas roupas lavadas na boca da noite. O marido da mãe chega e se assenta com o prato feito antes do banho; não tivera tempo para o almoço e vai fazer duas refeições em uma.
_ Tio Pedro, você me leva amanhã para ver o meu pai?
_ Você não ia no sábado ver o seu pai?
_ É, mas eu quero falar com ele. Tio Pedro, esse não é o A de abelha?
_É sim. Sua sopa está esfriando.
_ Então essa é a letra do nome do meu pai, porque o nome dele é Abel. Tio Pedro, hoje minha mãe falou pra tia Francisca que ainda é louca pelo meu pai. Você deixa ele vir morar com a gente? Aí você, que é pequeno, dorme na cama com a Adriana porque você é o pai dela. Aí ela não precisa mais dormir no berço. E eu durmo na cama grande com minha mãe e o meu pai, porque meu pai é grande e tem que dormir em cama grande.
A mulher sentiu-se mal na área de serviço. Chegou pálida na cozinha.
_Mãe, quando meu irmãozinho vai nascer? Ainda demora?
_Demora, filha; vá ao quarto da mamãe buscar o remédio de gotinhas.
A menina voltou rápido com o remédio e sentou-se de novo perto do prato. Tio Pedro, essa não é a sua letrinha? Você falou que é a letra do pato. Tio Pato... não...tio Pedro... mãe, cadê o meu tio Pedro?
Pedro andou sem rumo a noite toda. Voltou pela manhã com os olhos vermelhos e inchados.