NÃO ME PROCESSEM!
TEMPO QUENTE
Nelson Marzullo Tangerini
Digitei, um dia desses, o nome de minha tia, Dinorah Marzullo, no site de busca do Google e acabei caindo no site http://www.programa.multiply.com/photos/album/43/Dinorah_Marzullo, do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro, SATED-RJ, onde há uma homenagem à atriz.
Homenagem justa. Dinorah tem uma longa história e um extenso currículo no Teatro Brasileiro.
Há, porém, nesta página, alguns erros, que jogam meu pai para o esquecimento. Minha tia e minhas primas, Marília e Sandra Pêra, atrizes e cantoras, nada têm a ver com os erros deste site, que exclui a autoria de Nestor Tangerini nas peças em que Dinorah trabalhou: Tempo Quente, No Tabuleiro da Baiana, Gol! e Está Sobrando Mulher [esta última, no extinto Teatro Zaquia Jorge, de Madureira, subúrbio do Rio]
Não tenho a quem recorrer. Um e-mail meu foi enviado por mim a amigos, parentes e jornalistas. Nenhum retorno. Nenhuma nota.
Toda esta história, todo este esquecimento, acreditem, tem me cansado muito e me deixado muito mal humorado. Às vezes deprimido. Porque tenho um arquivo em casa, contendo textos - datilografados ou manuscritos -, fotos, cartazes de teatro, revistas e recortes de jornais da época. E porque tenho enviado cartas e e-mails contendo cópias desse material para diversas pessoas – muitas delas parentes e amigos.
Em vão, tenho lutado pela memória de minha família, sem que receba qualquer reconhecimento.
Muitos amigos têm elogiado este meu trabalho incansável de arquivista e memorialista.
No livro Vissi d´arte, de Marília Pêra, minha prima, por exemplo, colaborei com fotos de meu arquivo, com depoimentos e com raiz genealógica de nossa família.
Certa vez, um jornal do Rio publicou matéria sobre o filme Favela dos meus amores, de Humberto Mauro, com Carmem Santos e Antônia Marzullo. Minha avó, Antônia, aparecia numa foto ao lado de Carmem, mas não tinha nome. Era uma ilustre desconhecida. Fui ao jornal, mostrei-lhes cópia da foto de Antônia e, no dia seguinte, o jornal reparou o erro.
Sou apenas um homem solitário pregando no deserto da indiferença e da falta de sensibilidade.
Constantemente No tabuleiro da baiana, Estupenda!, Magnífica! e Gol! aparecem em biografias e matérias jornalísticas como sendo de Jardel Jércolis, quando deveriam colocar: “de Nestor Tangerini, Companhia Teatral Jardel Jércolis”. Porque Jardel era um empresário.
Quem sai de sua toca para defender a história, a memória da família?
Estou pedindo que os autores do site corrijam tais erros. Peço que coloquem o nome dos irmãos de Dinorah que aparecem na foto: Maurício e Dinah Marzullo. E o nome de quem cedeu a foto, Nelson Marzullo Tangerini, porque aquela foto é de meu arquivo. Podiam, ao menos, colocar: foto do Arquivo das famílias Marzullo, Pêra e Tangerini.
É assim que se procede. É assim que faço, quando escrevo. Porque assim aprendi, na Faculdade de Jornalismo Hélio Alonso.
Havia pensado em procurar um advogado para retirar o site do ar. E disse isso à minha prima Sandra Pêra, ex-Frenéticas. Pensando bem, pondo a cabeça no lugar, optei pelo diálogo.
Penso em ir ao SATED-RJ - sem advogado - e pedir, com gentileza, que o nome de meu pai seja incluído no site. Quero que dêem o crédito a Nestor Tangerini nas peças Tempo quente, No Tabuleiro da baiana, Gol! e Está sobrando mulher. Nada mais justo. Nestor Tangerini era deficiente físico e visual – era cego da vista direita e não tinha o braço esquerdo.
Muitos amigos me apóiam nessa causa. Recebi inúmeros elogios. E ficaram igualmente indignados, como eu fiquei.
Estou apenas defendendo a obra e a memória de meu pai, Nestor Tangerini. Luto pelo seu reconhecimento.
Ajudem-me – parentes, amigos e jornalistas.
Não me processem.
Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.