Futebol
Futebol sempre é um tema atual em todo o mundo. Sempre imprevisível, com grandes zebras. Em todos os campeonatos, em todas as camadas sociais, temos grandes conhecedores desse esporte. Debatem-se pontos de vista, em mesas com os amigos, sobre jogadores, técnicos e times, com muita paixão.
Certa vez eu estava tirando repouso em Ribeirão Preto, tinha chegado às 15:00 hs e retornaria à Campinas, somente às 14:00 hs do dia seguinte, com o R2, de passageiros, vindo de Araguari. Eu como maquinista achava essa a melhor escala.
Então, eu e meu ajudante nos dirigimos a um conhecido Bar da cidade. Era uma noite de muito calor. As mesas estavam todas tomadas. Então ficamos tomando nossos guaranás, em pé no balcão.
Em uma mesa próxima de nós estava havendo uma acalorada discussão sobre futebol. Eram uns cinco senhores de uns 50 anos. Um deles afirmava, com certeza, que em 1945, no Sul-americano realizado no Chile, o ponta esquerda do Brasil tinha sido Vevé ou Chico. Então eu comentei com o meu ajudante, que também gostava de futebol, que aqueles senhores não sabiam o que estavam falando.
Enquanto eu me dirigia ao caixa do bar para pagar os refrigerantes, o meu ajudante foi até a mesa deles e disse: “O meu maquinista acha que os senhores estão errados, e que não conhecem muito do nosso futebol”.
Eu, sem saber de nada, já ia deixando o recinto quando um dos esportistas que estava na mesa me chamou e perguntou por que eu não concordava com eles. Isto dito com muito respeito, e me convidou para sentar à mesa com eles. Depois de feitas as apresentações, eu esclareci que o ponta esquerda da Seleção Brasileira de 1945, no sul-americano no Chile havia sido Ademir de Menezes, então centro avante do C. R. Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Disse, também, que o Brasil formou, naquele campeonato, um ataque só de grandes craques: Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas, Jair da Rosa Pinto e Ademir de Menezes, num dos raros momentos de sensatez do técnico Flávio Costa.
Enquanto eu estava falando um dos membros da mesa foi até o telefone e ligou para uma Rádio local, para perguntar sobre o assunto. E quando ele voltou chegou até mim e me abraçou, e disse: “O chefe de Esportes da Rádio consultou os arquivos e me disse para dizer a vocês que o homem está certo”.
Depois de nós nos cumprimentarmos, recebi um convite: “O senhor está intimado, toda vez que estiver em Ribeirão Preto, a sua presença é obrigatória em nossa mesa”.
Assim, todas as vezes em que eu tinha tempo, ia até aquele Bar e passava algumas horas falando de futebol. E através desses momentos, fiquei amigo de muitos senhores que freqüentavam a mesa redonda esportiva. Depois de eu ter demonstrado que conhecia um pouco de história do futebol, um dos amigos me perguntou se eu sabia a escalação da Seleção Uruguaia de 1930, que havia sido campeã mundial. Eu lhe respondi que conhecia a equipe Uruguaia, a equipe Argentina, e até o juiz, e falei:”Tome nota. O Uruguai formou com Balesteros, Nazazi e Mascheroni; Andrade, Ferndez e Gestido; Dorado, Hescarone, Anselmo, Cea e Iriarte. A Argentina com Botasso, Dela Torre e Pasternoster; Evaristo, Monti e Varalo; Peucelle, Escopeli, Stábile, Barnabé Ferreira e Orsi. O juiz foi o belga Longenus.
O nosso amigo ficou de boca aberta com a minha resposta e pediu se podia confirmar com a Rádio em que trabalhava um parente seu, com esporte. Quando ele voltou me disse: “A resposta está certa. Eles só não têm o nome do juiz, mas vou confiar na sua memória”.
Assim fiz muitas amizades, sempre me comportando com muita humildade. Um dia eu me despedi de todos, pois a escala de trens iria mudar e eu não poderia voltar a Ribeirão Preto. Com muita emoção eu agradeci por todos os momentos felizes e sadios que passamos juntos, e lhes disse que nunca iria esquecê-los.
Assim, virei mais uma página da minha vida.