Um ou dois ônibus?
Sacolejando nos ônibus. Duas vezes ao dia ou mais. Nem sempre os mesmos rostos. Mas o mesmo auxiliar parado na rodoviária - camisa azul, calça preta, cabelos grisalhos, um "bom dia" todo dia.
É interessante observar as reações das pessoas e as minhas, claro. Uma vez, estava sentada no banco do ponto quando chegaram uma mulher com um bebê no colo e uma criança pequena ao lado. O menino perguntou para a mãe cinco vezes em cerca de dois minutos se o ônibus iria demorar. O bebê chorava, a mulher sacudia, o pivete perguntava. O bebê chorava, a mulher sacudia, o pivete perguntava. O bebê chorava, a mulher sacudia, o pivete perguntava. E eu? Apenas fazia mais um grande exercício de paciência e simpatia sorrindo.
Em outra ocasião, estava inquieta no ponto esperando o ônibus atrasada, aliás, não era só ele. Eu havia me superado: o horário combinado para fazermos um trabalho era às 9 horas. Acordei às 9:46. A fila se formou, eu tentei me apressar para não ficar em pé pelo terceiro dia seguido, uma senhora - que gracinha - disse: "Pode entrar, apressadinha". Sorriu bondosamente. Eu devolvi o sorriso e não evitei um pensamento: "Qualquer um ofereceria um banco para ela sentar, danadinha!"
Agora, o acontecido mais interessante e inusitado. Peguei outro um ônibus na faculdade , entrei com uns amigos , mas nos separamos. Sentei-me ao lado de um moço - aparentemente cerca de 25 anos, bolsa de mestrado, óculos de grau, sério - , fiz um ligação rápida e sosseguei. Ele estava à janela falando algo. Sua mão direita segurando o ferro a sua frente e a esquerda, imaginei eu, segurando o celular à orelha que eu não via. O curioso é que ele ficava com o pescoço inclinado também para a esquerda. Fiquei encabulada. Observei de novo e a mão esquerda, de fato, não estava com nenhum celular, mas ao lado da direita. O homem estava falando sozinho. (Mentira! Não acredito! Falando sozinho! É ele mesmo. Ninguém aqui está falando nada!)
Que mal tem isso, Isabella? O moço só estava conversando consigo mesmo. Tragicomédia, já que poderia conversar comigo. Tenho a impressão que nem notou a minha presença. Desse dia em diante, passei a cumprimentar a qualquer um que sentava-se ao meu lado.
Já não desci no lugar certo por não conseguir passar pelo corredor a tempo; já peguei circular em outra cidade com uma mala gigante e vim em pé por 40 minutos; já vi uma "tia" cantar, contar piada e tentar vender rifas para um monte de estudantes num ponto; já vi outra - mais louca - recitando a "Ave-Maria", o "Credo" desfilando, depois cantando na rodoviária. Já vi muita coisa. Melhor assim! Dou boas risadas com os ônibus em minha vida!
De tudo isso, uma lição: sempre manter o bom-humor!