PUNTA DEL ESTE - I

O sol demora a despontar no horizonte quando amanhece em Montevideo. Comprovei isso no dia seguinte. O despertador do celular, previamente programado na noite anterior para aquele horário, tocou a suave música às seis horas da manhã e eu pulei da cama confortável para ir até a janela do apartamento. Espreguicei-me bocejando para espantar a vontade de voltar a dormir e olhei em derredor. Estava bastante escuro como se ainda fosse noite, mas as pessoas, a pé ou de carro, já passavam em frente ao hotel no rumo de suas respectivas obrigações. O dia em Montevideo começava ainda com restos da escuridão noturna. Minha esposa ligou a TV querendo saber a quantas andava a temperatura, e o resto de negrume lá fora se arrastava displicente. Vez que às oito e trinta viriam buscar-nos para a viagem até Punta Del Este, às sete e meia estávamos tomando nosso desjejum. Sabendo de antemão que a temperatura beirava os cinco graus com tendência a cair um pouco mais, fomos devidamente agasalhados em nossos casacos de frio.
De Montevideo até Punta Del Este seria um trajeto de mais ou menos duas horas, passando por Atlantica, Piriápolis e pequenos lugarejos litoraneos com suas casas de veraneio pertencentes aos ricos residentes na capital e casebres típicos de pescadores e "biqueiros" que se viravam de qualquer maneira para sobreviver com a família. Em Atlantica circulamos por um bosque lindamente arborizado com seu colorido ar romantico. Aprazível, silencioso em sua linda paisagem, é local para onde muitos apaixonados se deslocam para os idílios e as paqueras num clima de delicioso romantismo. Muitas declarações de amor e paixão foram sussurradas sob a candura das árvores farfalhando suas folhas naquele bosque exuberante. Vimos diversos casais conversando apaixonados, inclusive um deles composto por representantes da "melhor idade" trocando ardentes beijos, indiferente ao tempo e ao vento gelado. Notei lágrimas emocionadas descendo nas faces de minha mulher, e ela confessou-me estar encantada com o ardor dos idosos enamorados. Abraçou-me e beijou-me, outros casais no microonibus também trocaram carinhos, todos influenciados pelo ar de cumplicidade emanando dali. 
A vista durante o percurso alterna do deslumbrante ao deprimente, mas prefiro ocupar-me do que é belo, destacando em especial a beleza estonteante das plácidas águas do Prata espelhando o sol e cegando o azul celeste. Poucos veículos trafegavam por lá enquanto seguíamos, por isso foi possível admirar em paz os contornos litorâneos do caminho, as árvores em abundância da margem esquerda em alguns pontos e o horizonte parecendo afogueado por chamas descendo do céu e emergindo das águas, oferecendo um espetáculo diferente de tudo que já tínhamos visto antes.
Fizemos uma rápida parada antes de Piriápolis, num local tão alto que mais parecia um imenso platô de onde avistávamos uma paisagem de tirar o fôlego. Como sói acontecer, o microonibus que nos conduzia estacionou precisamente ao lado de uma lojinha de souvenirs onde comprei mel de abelha("miel de aberra" como eles falam). Aliás, desde a saída de Montevideo eu perguntara à guia onde poderia adquirir esse produto natural e ela garantira que ali eu compraria o melhor mel apícola do Uruguai. Ela tinha razão. Empolgado, comprei logo três litros a cento e vinte pesos cada(menos de doze reais). Quando fui pagar verifiquei estar levando em meu bolso moeda de quatro países: peso argentino(em ainda regressaria a Buenos Aires para, em seguida, voltar ao Brasil), dólar, peso uruguaio e real brasileiro. O proprietário da lojinha me disse que receberia o valor em qualquer dessas moedas. Eu e minha esposa rimos enquanto fazíamos as conversões para saber com qual delas economizaríamos mais, optando pelo peso uruguaio mesmo, por fim, após os cálculos.
Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 06/06/2008
Reeditado em 06/06/2008
Código do texto: T1022164
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